segunda-feira, 12 de abril de 2010

PARÁBOLA DAS ÁVORES

Parábola das árvores
(Jz 9:7-15)

Essa parábola contada aos ho¬mens de Siquém por Jotão, filho mais novo de Gideão e único sobre¬vivente do massacre de seus 70 ir¬mãos por Abimeleque (outro irmão) é outra profecia em forma de pará¬bola, uma vez que se cumpriu. Abimeleque, filho bastardo de Gideão, aspirava a ser rei e persua¬diu os homens de Siquém a matar todos os 70 filhos legítimos de seu pai (exceto o que escapou) e o pro¬clamarem rei. Jotão, o sobreviven¬te, subindo ao monte Gerizim, pro¬feriu a parábola ao rei e ao povo, fugindo em seguida.
Muitos estudiosos discordam da natureza parabólica do pronuncia-mento de Jotão. Por exemplo, o dr. E. W. Bullinger, em Figures ofspeech [Figuras de linguagem], diz: "Não se trata de parábola, porque não há nenhuma comparação, na qual uma coisa é equiparada a outra [...] Quando árvores ou animais falam ou pensam, temos uma fábula; e, quando essa fábula é explicada, te¬mos uma alegoria. Se não fosse a oração explicativa 'fazendo rei a Abimeleque' (9:16), o que a torna uma alegoria, teríamos uma fábu¬la". O dr. A. T. Pierson refere-se a ela como "a primeira e mais antiga alegoria das Escrituras [...] Uma das mais lindas, de todas as fábu¬las ou apólogos de todo o universo literário". O professor Salmond igualmente refere-se a ela como "um exemplo legítimo de fábula [...] os elementos grotescos e improváveis que a tornam um meio inadequado para expressar a mais sublime ver¬dade religiosa".
Ellicott comenta: "nesse capítulo temos o primeiro 'rei' israelita e o primeiro massacre de irmãos; dessa forma, temos aqui a primeira fábu¬la. As fábulas são extremamente po¬pulares no Oriente, onde são mui¬tas vezes identificadas com o nome do escravo-filósofo Lokman, o congênere de Esopo [...] A 'fábula' é uma narrativa imaginária usada para fixar prudência moral nas men¬tes". Junto com outros comentaris¬tas, entretanto, inclino-me para o aspecto parabólico do discurso de Jotão, o qual, como disse Stanley, "fa¬lou como o autor de uma ode ingle¬sa". Lang também.vê o discurso como uma parábola e faz três observações:

1. o material da parábola pode ser verdadeiro, assim como as árvo¬res são objetos reais;
2. o uso desse material pode ser com¬pletamente imaginário; como quando mostra as árvores em uma reunião, propondo a eleição de um rei e convidando aquelas que estão em crescimento —a oli-veira, a figueira, a videira e o es-pinheiro— a reinar sobre as ár¬vores mais altas, como o cedro;
3. os detalhes imaginários podem corresponder exatamente aos ho¬mens que precisavam ser instruí¬dos e aos seus feitos [...] O cedro era o mais alto e imponente; as¬sim também eram os homens de Siquém, que foram fortes o sufi¬ciente para levar adiante o terrí¬vel massacre.

Ainda, quanto à diferença entre interpretação e aplicação, cumpre di¬zer que a primeira se relaciona com o problema em questão, a saber, a relação entre Israel e Abimeleque, sendo histórica e local; a segunda é profética, e dispensacional. A inter¬pretação imediata da parábola de Jotão seria: as diferentes árvores são apresentadas em 'busca de um novo rei', e sucessivamente apresentam-se a oliveira, a figueira, a videira e, por último, o espinheiro. Nessas ár¬vores desejosas de um rei, temos a apresentação figurada do povo de Siquém, que estava descontente com o governo de Deus e ansiava por um líder nominal e visível, como tinham as nações pagas vizinhas. Os filhos mortos de Gideão são comparados a Abimeleque, como as árvores boas ao espinheiro. A palavra traduzida por reina sobre dá a idéia de pairar e encerra também a idéia da falta de sossego e de insegurança. Keil e Delitzsch, em seus estudos sobre o AT, afirmam: "Quando Deus não era a base da monarquia, ou quando o rei não edificava as fundações de seu reinado sobre a graça divina, ele não passava de uma árvore, pairando so-bre outras sem lançar raízes profun¬das em solo frutífero, sendo comple-tamente incapaz de produzir frutos para a glória de Deus e para o bem dos homens. As palavras do espi¬nheiro, 'vinde refugiar-vos debaixo da minha sombra', contêm uma pro¬funda ironia, o que o povo de Siquém logo descobriria".
Então, como observaremos, a vida da nação israelita é retratada pela semelhança com as árvores ci¬tadas na parábola, cada qual com propriedades especialmente valiosas ao povo do Oriente. Muito poderia ser dito a respeito das árvores, sen¬do a vida de cada uma diferente uma da outra. Embora todas recebam sustento do mesmo solo, cada uma toma da terra o que é compatível com a sua própria natureza, para produ¬zir os respectivos frutos e atender às suas necessidades. São as árvores diferentes no que se refere ao tama¬nho, à forma e ao valor. Cada árvore possui glória própria. As fortes pro¬tegem as mais fracas do calor inten¬so e das tempestades ferozes (v. Dn 4:20,22 e Is 32:1).
A oliveira é uma das árvores mais valiosas. Os olivais eram numerosos na Palestina. Winifred Walker, em seu livro lindamente ilustrado Ali the plants of the Bible [Todas as plantas da Bíblia], diz que "uma ár¬vore adulta produz anualmente meia tonelada de óleo". O óleo proporcio¬nava a luz artificial (Êx 27:20) e era usado como alimento, sendo também um ingrediente da oferta de manja¬res. O fruto também era comido, e a madeira, usada em construções (lRs 7:23,31,32). As folhas da oliveira sim¬bolizam a paz.
A figueira, famosa por sua doçu¬ra, era também altamente aprecia¬da. Seu fruto era muito consumido, e seus ramos frondosos forneciam um excelente abrigo (ISm 25:18). Adão e Eva usaram folhas de figuei¬ra para cobrir a sua nudez (Gn 3:6,7). Os figos são os primeiros frutos men¬cionados na Bíblia.
A videira era igualmente esti¬mada por causa dos seus imensos cachos de uva, que produziam o vi¬nho —grande fonte de riqueza na Palestina (Nm 13:23). O "vinho, que alegra Deus e os homens". Sentar-se debaixo da própria figueira ou videira era uma expressão prover-bial que denotava paz e prosperi¬dade (Mq 4:4).
O cedro, a maior de todas as ár¬vores bíblicas, era famosa por sua notável altura, pois muitas vezes "media 37 m de altura e 6 m de diâ¬metro". Por causa da qualidade da madeira, o cedro foi usado na cons¬trução do templo e do palácio de Salomão. Altivos e fortes, eles sim¬bolizavam os homens de Siquém, po¬derosos o suficiente para levar adi¬ante o terrível massacre dos filhos de Gideão. Lang fez a seguinte apli¬cação: "Assim como um espinheiro em chamas poderia atear fogo numa floresta de cedros e assim como um cedro em chamas causaria a destrui¬ção de todos os espinheiros à sua volta, também Abimeleque e os ho¬mens de Siquém eram mutuamente destrutivos e trocaram entre si a re¬compensa da ingratidão e da violên¬cia das duas partes".
O espinheiro é um poderoso ar¬busto que cresce em qualquer solo. Não produz frutos valiosos, e sua árvore, da mesma forma, não serve de abrigo. Sua madeira é usada pe¬los habitantes como combustível. O dr. A. T. Pierson lembra-nos que "o espinheiro é o sanguinheiro ou ramno" e que "o fogo que sai do espi¬nheiro refere-se à sua natureza in-flamável, uma vez que pode facil¬mente e em pouco tempo ser consu¬mido". A aplicação é por demais ób-via. O nobre Gideão e seus respeitá¬veis filhos haviam rejeitado o reino que lhes fora oferecido, mas o bas¬tardo e desprezível Abimeleque o aceitara e se afiguraria aos seus sú¬ditos como espinheiro incômodo e fe¬roz destruidor; seu caminho acaba¬ria da mesma forma que o espinhei¬ro em chamas no reinado mútuo dele para com os seus súditos (Jz 9:16-20). O fogo a sair do espinheiro tal¬vez se refira ao fato de que o incên¬dio muitas vezes se inicia no arbus¬to seco, pela fricção dos galhos, for¬mando assim um emblema apropri-ado para a guerra das obsessões, que geralmente destroem as alianças entre homens perversos.
Embora a habilidade de Jotão no emprego das imagens tenha atraído a atenção dos homens de Siquém e tenha agido como um es¬pelho a refletir a tolice criminosa deles, esse reflexo não os faz arre¬pender-se da perversidade. Os siquemitas não proferiram senten¬ça contra si próprios, como fez Davi após ouvir a tocante parábola de Nata, ou como fizeram muitos dos que ouviram as parábolas de Jesus (Mt 21:14). Eloqüência eficaz é a que move o coração a agir. Os ou¬vintes da parábola de Jotão ainda toleraram o reinado de Abimeleque por mais três anos.
Para nós a lição é clara: "O doce contentamento com a nossa esfera de atuação e o privilégio de estarmos na obra de Deus, estando no lugar em que o Senhor nos pôs; e a inutili¬dade da cobiça por mera promoção". Como a oliveira, a figueira, a videira e o espinheiro são muitas vezes usa¬dos como símbolos de Israel, será proveitoso reportarmo-nos de modo resumido a essa aplicação:
A oliveira fala dos privilégios e das bênçãos pactuais de Israel (Rm 11:17-25). E corretamente chamada o primeiro "rei" das árvores, porque, por manter-se sempre verde, fala da duradoura aliança que Deus fez com Abraão, antes mesmo de Israel se formar. Na parábola de Jotão, a oli¬veira é caracterizada por sua gordu¬ra e, quando usada, tanto Deus como o homem são honrados (Êx 27:20,21; Lv 2:1). Os privilégios dos israelitas (sua gordura) são encontrados em Romanos 3:2 e 9:4,5. Nenhuma ou¬tra nação foi tão abençoada quanto Israel.
O fracasso de Israel (oliveira) se vê no fato de que alguns de seus ra-mos foram arrancados, e certos ga¬lhos selvagens foram enxertados no lugar. Os gentios estão desfrutando de alguns dos privilégios e das bên¬çãos da oliveira. De todas as bênçãos recebidas por Israel, a principal foi o dom da Palavra de Deus e o dom do seu Filho. Hoje os gentios rege¬nerados estão pregando sobre o Fi¬lho de Deus a Israel, levando até essa nação a Palavra de Deus. A restau¬ração dos judeus, entretanto, é vista em sua gordura, no dia em que "todo Israel será salvo [...] se sua queda foi riqueza para o mundo [...] quan¬to mais sua plenitude".

A figueira fala dos privilégios nacionais de Israel (Mt 21:18-20; 24:32,33; Mc 11:12-14; Lc 13:6-8).

O que caracteriza a figueira é a sua doçura e seus bons frutos. Deus plantou Israel, sua figueira, mas o seu fruto se corrompeu e, no lugar da doçura, houve amargor. Foi o que aconteceu quando o nosso Senhor veio a Israel, pois os seus (o seu povo) não o receberam. Com amargor, os judeus o consideraram um endemo-ninhado e "formaram conselho con¬tra ele, para o matarem". Hoje acon¬tece a mesma coisa, pois Israel ain¬da rejeita o seu Messias e é amargo para com ele. David Baron disse: "Te¬nho conhecido pessoalmente muitos homens amáveis e de caráter adorá¬vel entre os judeus, mas, assim que o nome 'Jesus' é mencionado, mudam o semblante, como se tivessem um acesso de indignação [...] cerrando os punhos, rangendo os dentes e cus¬pindo no chão por causa da simples menção do nome.
O fracasso de Israel se vê no ressecamento da figueira (Mt 21:19,20). Nosso Senhor procurou frutos, mas, como não encontrou um sequer, amaldiçoou a árvore infrutí¬fera, e ela secou. Na parábola de Lucas, ela é derrubada. Essa é a si¬tuação de Israel há muitos séculos. A figueira está seca, sem rei, sem bandeira e sem lar. Ela é cauda, ape¬sar da promessa de ser cabeça entre as nações.
A restauração de Israel se obser¬va nos brotos verdes da figueira. O Senhor certa vez amaldiçoou uma figueira, dizendo: "Nunca mais nas¬ça fruto de ti". Quanto à outra figuei¬ra, Israel, no entanto, disse: "Aprendei agora esta parábola da fi¬gueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão [...]. Igualmente vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está pró¬ximo, às portas" (Mt 24:32; Lc 21:30).
A videira simboliza os privilégios espirituais de Israel (Is 5:1-7; SI 80:9-19; Ez 15; Jo 15).
O que caracterizava a videira era o vinho, que alegra tanto a Deus como ao homem. O vinho é o símbo¬lo escolhido pelo Senhor para a ale¬gria. Quando Israel tinha os odres de vinho cheios e transbordantes, esse fato servia de prova indiscutí¬vel de que a bênção transbordante do Senhor estava sobre o povo e, é claro, de que havia alegria sob a aprovação divina; e o próprio Deus alegrava-se na libação oferecida por seu povo.
O fracasso de Israel se vê na vi¬deira consumida e devorada e na vinha pisoteada. Deus trouxe a vi¬deira do Egito, plantou-a em lugar preparado, fez tudo por ela, mas ela perdeu o viço, de modo que as suas sebes foram retiradas e a planta¬ção ficou desolada. Não existe mais vinho.
A restauração de Israel acontece¬rá no dia da visitação de Deus. "Ó Deus dos Exércitos, volta-te, nós te rogamos! Atende dos céus, e vê! Vi¬sita esta vinha, a videira que a tua destra plantou [...] Faze-nos voltar, ó Senhor Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos" (SI 80). Essa visitação acon¬tecerá na pessoa do Filho de Deus, pois todas as bênçãos espirituais es¬tão nele, e daqui em diante Israel as encontrará somente na Videira Ver¬dadeira.
O espinheiro, a mais insignifican¬te das árvores, só serve para ser queimada. O espinheiro estava dis¬posto a reinar sobre as árvores. E todas elas estavam dispostas a lhe prestar submissão. Isso é profético e reflete o dia em que Israel será do¬minado pelo Anticristo. O espinhei¬ro é uma árvore cujos espinhos re¬presentam a maldição do pecado.
Quando o espinheiro vier, dirá: "...vinde refugiar-vos debaixo da mi¬nha sombra...". Quando nosso bendi¬to Senhor esteve aqui, disse: 'Vinde a mim"; e o que teve em resposta foi: "Fora! Fora! Crucifica-o! [...] Não te¬mos rei, senão César". Mas, quando vier o espinheiro, eles o receberão e farão uma aliança com ele, depositan¬do a confiança na sua sombra.
Sairá fogo do espinheiro e con¬sumirá a todos. Essa é uma profe¬cia sobre a grande tribulação, a hora da dificuldade para Jacó. Mas o pró¬prio espinheiro será queimado e destruído (Jz 9:20). Isso acontecerá na vinda do nosso Senhor (2Ts 2:8). E a gordura, a doçura e a alegria das árvores abençoarão a Israel e farão dele uma bênção, por meio daquele que morreu no madeiro amaldiçoado.

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