terça-feira, 13 de abril de 2010

ESTUDO SOBRE AS HERESIAS DO ESPIRITISMO

O espiritismo é, sem dúvida, uma das heresias que mais cresce no mundo hoje. O Brasil, particularmente, detém o triste re¬corde de ser o maior reduto espiritista do mundo. O seu cresci¬mento se dá, em grande parte, devido ao fascínio que os seus ensi¬nos exercem sobre as mentes das pessoas desprovidas do verda¬deiro conhecimento, e alienadas de Deus.
Alheio à Palavra de Deus, e divorciado de toda a verdade, o espiritismo tem se constituído numa espécie de "profundezas de Satanás", pronto a tragar pessoas incautas que estão a buscar a Deus em todos os lugares e por todos os meios.

I. RESUMO HISTÓRICO DO ESPIRITISMO
O espiritismo constitui-se no mais antigo engano religioso já surgido. Porém, em sua forma moderna como hoje é conhecido, o seu ressurgimento se deve a duas jovens norte-americanas, Margaret e Kate Fox, de Hydeville, Estado de Nova Iorque.

1.1. ESTRANHOS FENÔMENOS
Em dezembro de 1847, Margaret e Kate, respectivamente de doze e dez anos, começaram a ouvir pancadas em diferentes pon¬tos da casa onde moravam. A princípio julgaram que esses ruídos fossem produzidos por camundongos e ratos que infestavam a casa. Contudo, quando os lençóis começaram a ser arrancados das ca¬mas por mãos invisíveis, cadeiras e mesas tiradas dos seus luga¬res, e uma mão fria tocou no rosto de uma das meninas, percebeu-se que o que estava acontecendo eram fenômenos sobrenaturais. A partir daí, as meninas criaram um meio de comunicar-se com o autor dos ruídos, que respondia às perguntas com um determinado número de pancadas.

1.2. EXPANSÃO DO MOVIMENTO
Partindo desse acontecimento, que recebeu ampla cobertura dos meios de comunicação da época, sessões espíritas propaga¬ram-se por toda a América do Norte. Na Inglaterra, porém, a con¬sulta aos mortos já era muito popular entre as camadas sociais mais elevadas. Por conseguinte, os médiuns norte-americanos en¬contraram ali solo fértil onde a semente do supersticionismo espiritista haveria de ser semeada, nascer, crescer, florescer e frutificar. Na época, outros países da Europa também foram visitados com sucesso pelos espíritas norte-americanos.
Na França, a figura de Allan Kardec é a principal dos arraiais espiritistas. Léon Hippolyte Rivail (o verdadeiro nome de Allan Kardec), nascido em Lião, em 1804, filho de um advogado, tomou o pseudônimo de Allan Kardec por acreditar ser ele a reencarnação de um poeta celta com esse nome. Dizia ter recebido a missão de pregar uma nova religião, o que começou a fazer a 30 de abril de 1856. Um ano depois, publicou O Livro dos Espíritos, que muito contribuiu na propaganda espiritista. Dotado de inteligência e inigualável sagacidade, estudou toda a literatura afim disponível na Inglaterra e nos Estados Unidos, e dizia ser guiado por espíritos protetores. Notabilizou-se por introduzir no espiritismo a idéia da reencarnação. De 1861 a 1867, publicou quatro livros: Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Céu e Inferno e Gênesis.


Allan Kardec, o pai do Espiritismo
Homem dotado de características físicas e mentais de grande resistência, Allan Kardec foi apóstolo das novas idéias que haveri¬am de influir na organização do espiritismo. Fundou A Revista Espírita, periódico mensal editado em vários idiomas. Ele mesmo assentou as bases da "Sociedade Continuadora da Missão de Allan Kardec". Morreu em 1869.

II. SUBDIVISÕES DO ESPIRITISMO
Embora consideremos o espiritismo igual em toda a sua ma¬neira de ser, os próprios espíritas admitem haver diferentes formas de espiritismo, assim designadas:

2.1. ESPIRITISMO COMUM
Dentre as muitas práticas dessa classe de espiritismo, desta¬cam-se as seguintes:
a. Quiromancia - Adivinhação pelo exame das tinhas das mãos. O mesmo que "quiroscopia".
b. Cartomancia - Adivinhação pela decifração de combina¬ções de cartas de jogar.
c. Grafologia - Estudo dos elementos normais e principal¬mente patológicos de uma personalidade, feito através da análise da sua escrita.
d. Hidromancia - Arte de adivinhar por meio da água.
e. Astrologia- Estudo e/ou conhecimento da influência dos astros, especialmente dos signos, no destino e no comportamento dos homens; também conhecida como "uranoscopia".
2.2. BAIXO ESPIRITISMO
O baixo espiritismo, também conhecido como espiritismo pagão, inculto e sem disfarce, identifica-se pelas seguintes práticas:
a. Vodu - Culto de negros antilhanos, de origem animista, e que se vale de certos elementos do ritual católico. Praticado prin¬cipalmente no Haiti.
b. Candomblé - Religião dos negros ioruba, na Bahia.
c. Umbanda - Designação dos cultos afro-brasileiros, que se confundem com os da macumba e dos candomblés da Bahia, xangô de Pernambuco, pajelança da Amazônia, do catimbó e outros cul¬tos sincréticos.
d. Quimbanda - Ritual da macumba que se confunde com os da umbanda.
e. Macumba - Sincretismo religioso afro-brasileiro derivado do candomblé, com elementos de várias religiões africanas, de religiões indígenas brasileiras e do catolicismo.

2.3. ESPIRITISMO CIENTÍFICO
O espiritismo científico é também chamado "Alto Espiritis¬mo", "Espiritismo Ortodoxo", "Espiritismo Profissional" ou "Espiritualismo". Ele se manifesta, inclusive, como "sociedade", como, por exemplo, a LBV (Legião da Boa Vontade), fundada e presidida por muitos anos pelo já falecido Alziro Zarur. Esta clas¬se de espiritismo tem sido conhecida também como:
a. Ecletismo - Sistema filosófico dos que não seguem sistema algum, escolhendo de cada um a parte que lhe parece mais próxi¬ma da verdade.
b. Esoterismo - Doutrina ou atitude de espírito que preco¬niza que o ensinamento da verdade deve reservar-se a um nú¬mero restrito de iniciados, escolhidos por sua influência ou va¬lor moral.
c. Teosofismo - Conjunto de doutrinas religioso-filosóficas que têm por objetivo a união do homem com a divindade, mediante a elevação progressiva do espírito até a iluminação. Iniciado por Helena Petrovna Blavastky, mística norte-americana (1831-1891), fanática adepta do budismo e do lamaísmo.

2.4. ESPIRITISMO KARDECISTA
O espiritismo Kardecista é a classe de espiritismo comumente praticada no Brasil, e tem, como principais, entre as suas muitas teses, as seguintes:
a. Possibilidade de comunicação com os espíritos desencar¬nados.
b. Crença da reencarnação.
c. Crença de que ninguém pode impedir o homem de sofrer as conseqüências dos seus atos.
d. Crença na pluralidade dos mundos habitados.
e. A caridade é virtude única, aplicada tanto aos vivos como aos mortos.
f. Deus, embora exista, é um ser impessoal, habitando um mundo longínquo.
g. Mais perto dos homens estão os "espíritos-guias".
h. Jesus foi um médium e reformador judeu, nada mais que isto.
Evidentemente, o diabo é um demagogo muito versátil e maleável, capaz de muitas transformações. Aos psicólogos, ele diz: "Trago-vos uma nova ciência". Aos ocultistas, assevera: "Dou-vos a chave para os últimos segredos da criação". Aos racionalistas e teólogos modernistas, declara: "Não estou aí. Nem mesmo exis¬to". Assim faz o espiritismo: muda de roupagem, como o camaleão muda de cor, de acordo com o ambiente, ainda que, na essência, continue sempre o mesmo: supersticioso, fraudulento, mau e dia¬bólico.

A passada das bandeiras numa cerimônia do vodu haitiano

III. A TEORIA DA REENCARNAÇÃO
A teoria da reencarnação se constitui no cerne de toda a dis-cussão espiritista. Destruída esta teoria, o espiritismo não poderá subsistir.
Sobre o assunto, escreveu Allan Kardec: "A reencarnação fazia parte dos dogmas judaicos sob o nome de ressurreição... A reencar-nação é a volta da alma, ou espírito, à vida corporal, mas em outro corpo novamente formado para ele que nada tem de comum com o antigo" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, pp. 24,25).

3.1. A BÍBLIA NEGA A REENCARNAÇÃO
A Bíblia jamais faz qualquer referência à palavra "reencarna¬ção", tampouco confunde-a com a palavra "ressurreição". Segun¬do o dicionário Escolar da Língua Portuguesa, de Francisco da Silveira Bueno, "reencarnação" é o ato ou efeito de reencarnar, pluralidade de existências com um só espírito; enquanto a palavra "ressurreição", no grego, é anástasis e égersis, ou seja, levantar, erguer, surgir, sair de um local ou de uma situação para outra.
No latim, "ressurreição" é o ato de ressurgir, voltar à vida, reanimar-se. Biblicamente, entende-se o termo "ressurreição" como o mesmo que ressurgir dos mortos, e, em linguagem mais popular, união da alma e do espírito ao corpo, após a morte física.


3.2. RESSURREIÇÃO NA BÍBLIA
No decorrer de toda a narrativa bíblica, são mencionados oito casos de ressurreição, sendo sete de restauração da vida, isto é, ressurreição para tornar a morrer, e um de ressurreição no sentido pleno, final — o de Jesus. Este foi diferente, porque foi ressurrei¬ção para nunca mais morrer, não somente pelo fato de Ele ser Je¬sus, mas porque, ao ressurgir, tornou-se Ele o primeiro da ressur¬reição real (1 Co 15.20,23).
A expressão "ressurreição dentre os mortos", como em Lucas 20.35 e Filipenses 3.11, implica uma ressurreição da qual somente os justos participarão. Os participantes da verdadeira ressurreição não mais morrerão (Lc 20.36). A referida expressão e tradução correta do original. A palavra "dentre" indica que os mortos ímpios continuarão sepultados quando os santos ressurgirem.
Os sete outros casos de ressurreição na Bíblia, por ordem, são: o filho da viúva de Serepta (1 Rs 17.19-22); o filho da sunamita (2 Rs 4.32-35); o defunto que foi lançado na cova de Eliseu (2 Rs 13.21); a filha de Jairo (Mc 5.21-23,35-43); o filho da viúva de Naim (Lc 7.11-17); Lázaro (Jo 11.1-46); Dorcas (At 9.36-43).
O caso da ressurreição de Jesus, que, como já dissemos, é di-ferente, acha-se registrado em Mateus 28.1-10; Marcos 16.1-8; Lucas 24.1-12; João 20.1-10 e 1 Coríntios 15.4,20-23.
Quanto à ressurreição propriamente dita, escreve Allan Kardec: "A ressurreição implica a volta da vida ao corpo já morto — o que a ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quan¬do os elementos desse corpo foram, depois de muito tempo, dispersos e absorvidos".
E evidente que esta teoria de Allan Kardec não pode prevale¬cer, uma vez que se baseia em conceitos de homens e não nas Escrituras, que declaram a possibilidade da ressurreição dos mor¬tos. Não é relevante citarmos aqui os casos de mortos que foram ressuscitados antes de serem levados à sepultura. Vamos citar ape¬nas dois casos de mortos que foram levantados dentre os mortos após quatro e três dias de sepultados: Lázaro e Jesus.

3.2.1. LÁZARO
O testemunho de João capítulo 11 é que Lázaro:
a) estava morto (vv.14,21,32,37);
b) estava sepultado já havia quatro dias (vv. 17,39);
c) já cheirava mal (v.39);
d) ressuscitou ainda amortalhado (v.44);
e) ressuscitou com o mesmo corpo e com a mesma aparência que possuía antes de morrer (v.44).
3.2.2. JESUS
O testemunho das Escrituras quanto à morte e ressurreição de Jesus Cristo, é que:
a) Os soldados romanos testemunharam que Cristo estava morto (Jo 19.33).
b) José de Arimatéia e Nicodemos sepultaram-no (Jo 19.38-42).
c) Ele ressuscitou no primeiro dia da semana (Lc 24.6).
d) Mesmo após ressuscitado, Ele ainda portava as marcas dos cravos nas mãos, para mostrar que seu corpo, agora vivo, era o mesmo no qual sofrerá a crucificação, porém, glorificado (Lc 24.39; Jo 20.27).

3.3. UMA TEORIA ABSURDA
Procurando dar sentido bíblico à absurda teoria da reencarnação, Allan Kardec lança mão do capítulo 3 de João para dizer que Jesus ensinou sobre a reencarnação. Os tradutores da obra de Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, usaram a versão bí¬blica do padre Antônio Pereira de Figueiredo como texto base de sua tradução, grifando o versículo 3 do citado capítulo de João: "Na verdade te digo que não pode ver o reino de Deus senão aque¬le que renascer de novo" (ênfase minha), quando o versículo na¬quela versão é escrito da seguinte forma: "Na verdade, na verda¬de, te digo, que não pode ver o reino de Deus, senão aquele que nascer de novo" (ênfase minha).
"Renascer" já significa nascer de novo, enquanto "renas¬cer de novo" constitui-se numa intolerável redundância, mas não sem propósito por parte do espiritismo, que por tudo pro¬cura provar que a absurda teoria da reencarnação tem funda¬mento na Bíblia.

IV. JOÃO BATISTA ERA ELIAS REENCARNADO?
Dirigindo-se a Jesus, perguntaram-lhe os seus discípulos: "Por que dizem, pois, os escribas ser necessário que Elias venha pri¬meiro? Então Jesus respondeu: De fato (...) Elias já veio, e não o reconheceram, antes fizeram com ele tudo quanto quiseram (...) Então os discípulos entenderam que lhes falara a respeito de João Batista" (Mt 17.10-13).
Acerca de João Batista, disse mais Jesus: "E, se o quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir" (Mt 11.14).

4.1. OPINIÃO ESPIRITISTA
Prevalecendo-se do literalismo destas passagens, escreveu Allan Kardec: "A noção de que João Batista era Elias e de que os profetas podiam reviver na Terra, depara-se em muitos passos dos Evangelhos, especialmente nos acima citados. Se tal crença fosse um erro, Jesus não a deixaria de combater, como fez com muitas outras, mas, longe disso, a sancionou com sua autoridade... 'É ele mesmo o Elias, que havia de vir'. Aí não há nem figuras nem alegorias; é uma afirmação positiva" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, pp. 25, 27).

4.2. OBJEÇÃO BÍBLICA
Um dos conceitos de hermenêutica mais conhecido é aquele segundo o qual a Bíblia interpreta-se a si mesma. Portanto, somos impedidos de lançar mãos de recursos alheios ao contexto bíblico para interpretar o mais simples dos seus ensinos. A Bíblia mesma dá respostas às suas indagações. A pergunta: "João Batista era Elias reencarnado ou não?" responde o próprio João Batista, dizendo: "Não sou" (Jo 1.21).
Sobre João Batista, diz Lucas 1.17: "E irá adiante dele no es¬pírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto". Isto não quer dizer que João fosse Elias, mas que no seu ministério haveria peculiaridades do ministério de Elias. De fato, a Bíblia não trata de nenhum outro caso de dois homens, cujos ministérios tenham tanta semelhança como João Batista e Elias. Lembra o refrão popular: "Tal Pai, tal filho". Isto não quer dizer que o filho seja absolutamente igual ao pai, ou que um seja a reencarnação do outro, mas sim, que existem hábitos comuns entre ambos.

4.3. CINCO PONTOS A CONSIDERAR
Dentre as muitas razões pelas quais cremos que João Batista não era Elias reencarnado, queremos citar as seguintes:
• Os judeus criam que João Batista fosse Elias ressuscitado, não reencarnado (Lc 9.7,8).
• Se os judeus realmente acreditassem que João era Elias reencarnado e não ressuscitado, não teriam em outra oportunidade admitido que Cristo fosse Elias ressuscitado. João Batista e Cris¬to, que viveram simultaneamente por cerca de trinta anos, não podiam ser Elias ressuscitado ou reencarnado, ao mesmo tempo (Lc 9.7,9).
• Se reencarnação é o ato ou efeito de reencarnar, pluralidade de existências com um só espírito, é evidente que um vivo não pode ser reencarnação de alguém que nunca morreu. Fica claro assim que João Batista não era Elias, já que este não morreu, pois foi arrebatado vivo ao céu (2 Rs 2.11).
• Se João Batista fosse Elias, quem primeiro teria conheci¬mento disso teria sido ele mesmo e não os judeus ou os espíritas. Àqueles que lhe perguntaram: "És tu Elias?", ele respondeu de¬sembaraçadamente: "Não sou" (Jo 1.21).
• Se João Batista fosse Elias reencarnado, no momento da trans-figuração de Cristo teriam aparecido Moisés e João Batista, e não Moisés e Elias (Mt 17.18).
Fica evidente, portanto, que a Bíblia não apóia a absurda teo¬ria espiritista da reencarnação. Até mesmo os chamados "fatos com-provados" da reencarnação, apresentados pelos advogados do es-piritismo, na verdade não comprovam coisa alguma.

V. A INVOCAÇÃO DE MORTOS
Reencarnação e invocação de mortos são as duas principais estacas de sustentação de toda a fraude espiritista. Se ambas pude¬rem ser removidas, o espiritismo ruirá irremediavelmente.

5.1. O QUE A BÍBLIA Diz
Aos hebreus que saíram do Egito e se aproximavam de Canaã, por intermédio de Moisés, disse o Senhor Deus:
"Quando entrares na terra que o Senhor, teu Deus, te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti se não achará quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador de encantamentos, nem quem consulte um espírito adivinhante, nem mágico, nem quem consulte os mor¬tos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor, e por estas abominações o Senhor, teu Deus, as lança fora de diante de ti. Perfeito serás, como o Senhor, teu Deus. Porque estas na¬ções, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o Senhor, teu Deus, não permitiu tal coisa" (Dt 18.9-14).
Com base nestas palavras de Moisés, no seu livro O Céu e o Inferno, aduz Allan Kardec: "... Moisés devia, pois, por política, inspirar nos hebreus aversão a todos os costumes que pudessem ter semelhança e pontos de contato com o inimigo".

5.2. DEUS CONDENA A INVOCAÇÃO DE MORTOS
Alegar que Moisés se opunha aos costumes pagãos dos cananeus baseado em razões simplesmente políticas, como afirma
Allan Kardec, atesta a completa ignorância do espiritismo quanto às Escrituras Sagradas.
A proibição divina de consultar os mortos não prova que ha¬via comunicação com os mortos. Prova apenas que havia a con¬sulta aos mortos, o que não significa comunicação real com eles. Era apenas uma tentativa de comunicação. Na prática de tais con¬sultas aos mortos, sempre existiram embustes, mistificações, men¬tiras, farsas e manifestações de demônios. É o que acontece nas sessões espíritas, onde espíritos demoníacos, espíritos enganado¬res, manifestam-se, identificando-se como pessoas amadas que faleceram. Alguns desses espíritos têm aparecido, identificando-se com os nomes de grandes homens, ministrando ensinos e até apresentando projetos éticos e humanitários, que terminam sem¬pre em destroços. São espíritos que se prestam ao serviço do pai da mentira, Satanás.
O povo de Deus, porém, possui a inigualável revelação de Deus pela qual disciplina a sua vida: "Quando vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre dentes; — não recorrerá um povo ao seu Deus? A favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos? À lei e ao testemu¬nho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva" (Is 8.19,20).

5.3.0 ESTADO DOS MORTOS
O testemunho geral das Escrituras é que os mortos, devido ao estado em que se encontram, não têm parte em nada do que se faz e acontece na Terra. Consulte os seguintes textos: Eclesiastes 9.5,6; Salmos 88.10-12; Isaías 38.18,19; Jó 7.9,10.
Nenhum dos textos bíblicos mencionados contradiz a espe¬rança bíblica da ressurreição dos mortos, uns para a vida eterna, outros para vergonha e perdição eterna. Os citados textos mos¬tram, sim, que o homem após a morte, na sepultura, jamais po¬derá voltar à vida de outrora, e que na sepultura nada poderá fazer por si mesmo e muito menos pelos vivos que ainda estão na Terra.

VI. SAUL E A MÉDIUM DE EN-DOR
(Antes de prosseguir, tome a sua Bíblia, abrindo-a no capítulo 28 de 1 Samuel. Leia todo esse capítulo e em seguida volte à leitu¬ra deste livro.)
Concluída a leitura desta porção das Escrituras, vêm à mente perguntas, tais como: É ou não possível comunicar-se com os es¬píritos de pessoas falecidas? Foi ou não Samuel quem apareceu na sessão espírita de En-Dor? Muitas respostas poderiam ser dadas aqui, como por exemplo: A assembléia judaica sempre acreditou que Samuel realmente apareceu naquela ocasião. Essa também era a opinião de alguns dos mais destacados líderes da Igreja dos pri¬meiros séculos, entre eles, Justino Mártir e Origenes. Já Tertuliano, Jerônimo, Lutero e Calvino acreditavam que um demônio apare¬ceu em forma de pessoa, personificando Samuel.

6.1. ANÁLISE DO CASO
Até mesmo uma despretensiosa análise de 1 Samuel 28 mos¬tra com clareza meridiana que um espírito de engano, e não Samuel, foi quem apareceu na sessão espírita de En-Dor. Dentre as muitas provas contra a opinião de que Samuel apareceu naquela ocasião, destacam-se as seguintes:
a. Nem a médium nem o seu espírito de mediunidade exerciam qualquer poder sobre a pessoa de Samuel. Só Deus exercia esse poder; pelo que não iria permitir que seu fiel servo viesse a se tornar parte de uma prática que o próprio Deus condenou (Dt 18.9-14).
b. Após informar a Saul que Deus o tinha rejeitado, Samuel nunca mais disse coisa alguma a esse rei.
c. Se fosse Samuel quem aparecera na ocasião, ele não teria mentido, dizendo que Saul perturbara seu descanso, se Deus, e não Saul, lhe tivesse ordenado; nem dizendo que Saul e seus filhos estariam com ele no dia seguinte (vv.15,16).
d. O próprio Saul disse que Deus já não lhe respondia nem pelo ministério dos profetas e nem por sonhos (vv. 6,15), pelo que Deus, no último momento,
• não teria cedido ao desejo de Saul de receber outra revelação;
• não teria entrado em contradição com a sua Palavra, que nega a possibilidade de vivos terem contato com os mortos (Jó 7.9,10; Ec 9.5,6; Lc 16.31);
• não teria criado a impressão de que tentar entrar em contato com os mortos não é tão mau como antes Ele mesmo dissera ser (Dt 18.9-14);
• não teria afirmado que Saul deveria morrer por causa da con-sulta feita à médium (1 Cr 10.13).
e. Saul disse à médium a quem deveria chamar.
De acordo com o estudo dos fenômenos psíquicos, a médium teria lido na mente de Saul qual seria a aparência de Samuel, e a descrevera como Saul costumava vê-lo.
f. A médium temeu porque:
• em seu transe ela reconheceu Saul (v. 12), que era conhecido como inimigo das práticas espiritistas; ou,
• ela viu um espírito adejando por cima da aparição, que com "prodígios de mentira" se fazia passar por Samuel.
g. O próprio Saul não viu Samuel. De acordo com a descrição da médium, ele mesmo supôs que a personagem descrita era Samuel.
h. Quanto à profecia abordada durante a sessão em En-Dor, J.K. Van Baalen, no seu livro O Caos das Seitas, dá as seguintes possibilidades:
• a mulher percebeu o medo de Saul, de que o seu fim era iminente, e isso ela predisse;
• a mulher tomou conhecimento da profecia feita antes por Samuel (1 Sm 15.16,18), que vinha perseguindo Saul (1 Sm 16.2; 20.31, etc), pelo que lhe disse o que ele esperava ouvir;
• se um demônio se fazia passar por Samuel e falou por meio da médium, então a mulher ter-se-ia lembrado da profecia de Samuel, fazendo uso dela.
i. Não era necessário que alguém fosse perito ou estrategista em guerras para prever a derrota de Saul e de Israel diante dos filisteus. Em todos os tempos, o salário do pecado é a morte. No capítulo 15 de 1 Samuel, a questão dessa guerra já havia sido le¬vantada bem antes de Saul consultar a médium.
j. A parte final do vaticínio da médium não foi verdadeira no seu cumprimento, pois nem Saul morreu no dia seguinte, nem morreram nesse dia todos os seus filhos.

6.2. PROFUNDEZAS DE SATANÁS
A melhor maneira de se definir o espiritismo é chamá-lo de "profundezas de Satanás" (Ap 2.24). Assim devemos ter sempre em mente os fatos que mostram que Satanás:
• é o pai da mentira (Jo 8.44);
• sabe imitar a realidade com os seus embustes (Êx 7.22; 8.7);
• se transforma em anjo de luz (2 Co 11.14);
• tem o poder de operar milagres (2 Ts 2.9).
Aqueles que se envolvem com o espiritismo estão sob as ma¬lhas da rede de Satanás, correndo o perigo de jamais se libertarem dela.

VII. PODEM OS MORTOS AJUDAR OS VIVOS?
Para saber se os mortos podem ou não ajudar os vivos, leia a história do rico e Lázaro, contada por Jesus no Evangelho de Lucas 16.19-31. Precisamente, os versículos 22 e 23 dizem: "E aconte¬ceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado. E, no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio".

7.1. UM QUADRO CONTRASTANTE
Veja que contraste: Lázaro morre e é levado ao Paraíso de Deus, enquanto o rico, ao morrer, é lançado no inferno de horror, de onde, em agonia, clama: "Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama" (v. 24).
Naquele instante de extrema dor e sofrimento, um pequenino favor de Lázaro seria suficiente para amenizar o sofrimento da¬quele infeliz; porém, o pai Abraão respondeu: "... Filho, lembra-te de que recebestes os teus bens em tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu, atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá" (vv. 25,26).

7.2. ALGUMAS CONCLUSÕES DESTA PASSAGEM
Feita uma análise desta passagem, as conclusões a que chega¬mos são:
a. A vida no porvir será uma conseqüência natural da vida que se viveu aqui na Terra: Lázaro, que era piedoso e temente a Deus aqui, ao morrer foi levado para o Paraíso, enquanto o homem rico, vaidoso e indiferente às necessidades dos outros, morreu e foi le¬vado para o inferno de trevas e sofrimento.
b. O lugar onde serão lançados os perdidos será um lugar de sofrimento eterno, e não um lugar de purificação e aperfeiçoa¬mento dos espíritos.
c. Se ao homem aqui, vivendo ímpia e perversamente, abre-se-lhe uma porta de escape após a morte, como admite o espiritis¬mo, o Evangelho de Cristo deixa de ser o que é, ao passo que o sacrifício de Cristo torna-se a coisa mais absurda sobre a qual já se teve notícia.
d. Se um falecido pudesse, de alguma forma ajudar os seus entes queridos vivos, o rico não teria rogado a Abraão que envias-
se Lázaro ou um dos mortos à casa dos seus irmãos, a fim de ad-verti-los do perigo de cair no inferno; ele mesmo teria feito isto.
e. Se fosse possível que o espírito de um falecido pudesse aju¬dar os vivos, Deus teria permitido que Lázaro, um dos mortos, ou o próprio homem rico exercesse influência junto aos parentes deste.
f. Tudo quanto o homem precisa conhecer concernente à sal¬vação e à vida eterna acha-se exarado nos escritos de Moisés, dos profetas, dos evangelistas e dos apóstolos do nosso Senhor Jesus Cristo.
Toda a revelação divina escrita encerra-se nas seguintes pala¬vras de Jesus Cristo: "Eu testifico a todo aquele que ouvir as pala¬vras da profecia deste livro: Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas que estão escritas neste li¬vro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida, e da Cidade Santa, que estão descritas neste livro" (Ap 22.18,19).
Assim, os chamados "bons ensinamentos" dos espíritos dos mortos, defendidos pelo espiritismo, nada mais são do que ensinamentos de demônios, pois apresentam-se como nova fonte de revelação, em detrimento da verdadeira revelação de Deus — a Bíblia Sagrada.

VIII. DE DEUS NÃO SE ZOMBA
Correm grande perigo as pessoas que se dão às tristes aventu¬ras e experiências espiritistas. Para ilustrar isto, usaremos a histó¬ria do bispo episcopal, James A. Pike, envolvendo a morte do seu filho Jim e o relacionamento de ambos com o espiritismo. Esta história foi publicada no Anuário Espírita de 1971. Reportamo-nos a ela como meio de oferecer-lhe, leitor, subsídios no combate ao erro espiritista, e para advertir aqueles que se estão deixando iludir por esses ensinos de demônios.

8.1. A TRÁGICA MORTE DE JIM
Pike tinha um único filho, um, belo e culto rapaz. Em 1966, pai e filho encontravam-se na Inglaterra, em Cambridge. Jim deci¬diu voltar aos Estados Unidos. Voou para Nova Iorque, e ali, no seu quarto de hotel, matou-se com um tiro. Jim tinha dificuldade em se relacionar com as pessoas. Era arredio mesmo em relação ao pai, e, por ironia, só depois da morte, através de médiuns ame¬ricanos e ingleses, teria conseguido, segundo o relato, comunicar-se com Pike. Jim tinha 22 anos, sua morte arrasou o pai. Tudo era mais dramático porque, por incrível que possa parecer, Pike não cria na vida após a morte. Ele fora seminarista e se desiludira com o catolicismo; mesmo como bispo episcopal sua situação era em¬baraçosa: sem admitir os dogmas da religião, via-se constante¬mente atacado e não poucas vezes taxado de herege.

8.2. COISAS ESTRANHAS COMEÇAM A ACONTECER
Após os funerais do filho, nos Estados Unidos, Pike voltou com seus problemas para Cambridge. No quarto do hotel onde antes estivera com o filho coisas estranhas começaram a acontecer: roupas eram atiradas dos armários, livros moviam-se das estantes, etc.
Como qualquer pessoa que se envolve com o espiritismo, Pike resolveu dar um passo desastroso na vida. Em lugar de normalizar a sua situação com Deus, saiu à procura de alguém que pudesse explicar tais fenômenos. Foi assim que, com a ajuda de amigos, entrou em contato com a médium inglesa Ena Twigg. Uma sessão foi marcada e Pike teve o primeiro contato com aquele que julgou ser o espírito do seu filho Jim. O espírito dizia: "Tenho sido tão infeliz!" Instado pelo pai, respondeu que não acreditara em Deus como uma pessoa, mas que, agora, acreditava na eternidade.
Acrescenta o Anuário: "Além disso, o rapaz o exortou a pros¬seguir em suas pesquisas e predisse que o pai abandonaria sua igreja. Pike mostrou-se constrangido, mas Jim insistiu: 'Você fará. Isto ocorrerá no dia 1Q de agosto'".

8.3- PIKE DEIXA A SUA IGREJA
Logo após voltar à América, Pike entrou em contato com o médium americano Arthur Ford, com o qual participou de um pro-grama de televisão. No citado programa, Ford, em transe, transmi¬tiu mensagens que, dizia ele, serem de Jim a Pike. O programa produziu tão grande escândalo, que deixou a imprensa americana e inglesa num verdadeiro reboliço. A Igreja Episcopal protestou e Pike resolveu deixá-la.
Não muito depois da morte de um, após ingerir forte dose de barbitúricos, morre a senhora Maren Bergrud, secretária de confi¬ança de Pike. Ela sofria de câncer. Certo dia, estando ela melhor de saúde, os espíritos segredaram-lhe ao ouvido que, se pusesse fim à sua vida, poderia perpetuar aquele estado. Foi o que ela fez. Com a morte do filho e agora da secretária, Pike ficou quase arra¬sado; mesmo assim continuou buscando fenômenos relacionados com o além-túmulo.

8.4. "O OUTRO LADO"
Pike juntou todo o material das sessões espíritas das quais havia participado, e escreveu o livro O Outro Lado. Pike foi pre¬sa fácil, caindo sob a armadilha do espiritismo sem nenhuma resistência.
Ao abandonar a Igreja Episcopal, Pike decidiu fundar uma entidade para estudos psíquicos. Num dos seus diálogos com o suposto espírito de um, indagou se o filho ouvira falar de Jesus, ao que ele respondeu: "Meus mentores me dizem: Jim, você ainda não está em condições de compreender. Eu não o encontrei, mas todos falam a respeito dele como um místico, um vidente. Eles não o mencionam como o salvador, mas como um exemplo. Você compreende? Eu preciso dizer-lhe: Jesus é triunfante. Você não pode me pedir que lhe diga o que ainda não compreendo. Ele não é o salvador, isto é muito importante, mas um exemplo". Acres¬centa o Anuário: "... agora Pike julga-se um cristão autêntico".

8.5- A LEI DA SEMEADURA E DA COLHEITA
Pike partiu para a Palestina, a fim de fazer uma pesquisa a respeito de Jesus Cristo, nos próprios lugares por onde Jesus an¬dou e exerceu o seu ministério. A Bíblia já não lhe valia coisa alguma. Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, não passava de um mito, um místico, um vidente, nada mais que isso. Ali aconteceu o que certamente ele não previra: no dia 7 de setembro de 1969 o seu corpo foi achado sem vida, quase que completamente encoberto pela areia nos desertos próximos do mar Morto.
Vale a pena lembrar e citar as palavras do apóstolo Paulo, quan¬do diz: "Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem se¬meia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna" (Gl 6.7,8).

IX. VOCABULÁRIO ESPIRITISTA
Assim como a pessoa é conhecida pelo vocabulário que usa, de igual modo o espiritismo é mais bem identificado por seu vocabulário, usado para comunicar os seus enganos. É eviden¬te que muitas das palavras seguintes, usadas no linguajar espiritista, podem ter diferentes sentidos, por exemplo, de acor¬do com a ciência. Porém, na relação a seguir, vamos dar o sig¬nificado de cada palavra, de acordo com a interpretação dada pelo próprio espiritismo.

9.1. PALAVRAS DE ENGANO
Do grande universo de termos usados pelo espiritismo, desta¬cam-se os seguintes:
• Médium - Pessoa a quem se atribui o poder de se comunicar com espíritos de pessoas mortas.
• Mediunidade - E o fenômeno em que uma pessoa recebe um outro espírito, supostamente de uma pessoa falecida, sendo que esse espírito recebido passa a dominar a mente do médium que recebe o controle e o domínio do seu próprio corpo.
• Clarividência e Clariaudiência - Fenômenos segundo os quais uma pessoa pode sentir, observar e ver os espíritos que a rodeiam, servindo de elo de ligação e comunicação entre o mundo visível e o invisível.
• Levitação - Força psíquica gerada por uma ou mais mentes na imposição de mãos, onde um objeto ou uma pessoa pode ele¬var-se do solo. E muito praticada na parapsicologia, que é uma falsa ciência.
• Telepatia - Comunicação por via sensorial entre duas men¬tes à distância; transmissão de pensamento.
• Criptestesia - E o fenômeno da sensação do oculto, ou seja, o conhecimento de um fato transmitido por um morto, sem conhe¬cimento de nenhum vivo.
• Premonição - Sensação, pressentimento do que vai suceder.
• Metagnomia - É a resolução de problemas matemáticos, obras artísticas que se produzem e línguas desconhecidas que se decifram (lembre-se de que isto nada tem a ver com nenhum dos dons do Espírito Santo).
• Telecinesia - Movimentos de objetos, toque de instrumentos musicais, alterações de balanços sem o toque de mãos.
• Idioplastia - É a alteração do corpo físico em virtude do pensamento.

9-2. CARACTERÍSTICAS DESSES FENÔMENOS
Cássio Colombo, em um "Estudo Sobre o Espiritismo", cha¬ma a nossa atenção para o fato de que esses "fenômenos":
1) Não são fatos comuns da vida; antes, impressionam pela sua anormalidade.
2) Ocorrem apenas com determinadas pessoas, que também recebem o nome de "clarividentes" ou "médiuns".
3) Todos são, pelo menos na aparência, fatos inteligentes.
4) São fenômenos que ninguém tem a consciência de causas. Daí a atribuí-los cada qual a outrem, ou seja, não há entidade res¬ponsável pelos trabalhos.
5) Os fenômenos metapsíquicos independem de espaço e de tempo. Há conhecimento direto, imediato.
6) Há condições necessárias para as manifestações metapsíquicas: concentração, penumbra, etc. O medo, a desconfi¬ança e o sarcasmo perturbam essas manifestações.
7) Há quase sempre o que se tem chamado de projeção, isto é, os fenômenos são objetivos e não subjetivos. Não há alucinações.
8) As mensagens mediúnicas são muitas vezes apresentadas de modo simbólico. Exemplo: para simbolizar uma morte, surge uma despedida.
9) Os fenômenos referidos várias vezes ocorrem na hora da morte, supondo-se que, neste caso, os fenômenos surjam por cau¬sa da tensão emotiva e das condições vitais, que, fugindo à regra, permitem a manifestação das forças latentes do espírito.
10) Há comportamento nas manifestações metapsíquicas que parecem expressar existência de personalidades diferentes dos que tomam parte da sessão. É o caso da fraude e da fantasia comuns no espiritismo.

X. O ESPIRITISMO E AS SUAS CRENÇAS
Já dissemos que as duas principais estacas de sustentação do espiritismo são o dogma da reencarnação e a alegada possibilida¬de de os vivos se comunicarem com os espíritos dos mortos. Mas a doutrina espiritista é muito mais que isto, como é mostrado a seguir.
1O.1. COMPLEXO DOUTRINÁRIO
O conjunto de doutrinas do espiritismo é grande e complexo. Na verdade constitui-se num esquema de negação de toda a doutrina bíblica cristã. Veja, por exemplo, o que crê o espiritismo acerca dos seguintes temas da doutrina cristã.

10.1.1 DEUS
"Abrogamos a idéia de um Deus pessoal" (The Physical Phenomena in Spiritualism Revealed).
"Deve-se entender que existem tantos deuses quantas são as mentes que necessitam de um deus para adorar; não apenas um, dois, ou três, mas muitos" (The Banner of Light, 03.02.1866).

10.1.2. CRISTO
"Qual é o sentido da palavra Cristo! Não é, como se supõe geralmente, o Filho do Criador de todas as coisas? Qualquer ser justo e perfeito é Cristo" (Spiritual Telegraph, nº 37).
"Não obstante, parece que todo o testemunho recebido dos espíritos avançados mostra apenas que Cristo era um médium e um reformador da Judéia, e que agora é um espírito avançado na sexta esfera" (Palavras do Dr. Weisse, citado por Hanson, em Demonology or Spiritualism).
"Cristo foi um homem bom, mas não poderia ter sido divino, exceto no sentido, talvez em que todos somos divinos" (Mensa¬gem por um "espírito", citado por Raupert em Spiritist Phenomena and Their Interpretatiorí).

10.1.3. A EXPIAÇÃO
"A doutrina ortodoxa da Expiação é um remanescente dos maiores absurdos dos tempos primitivos, e é imoral desde o âma¬go... A razão dessa doutrina é que o homem nasce neste mundo como pecador perdido, arruinado, merecedor do inferno. Que mentira ultrajante!... — Porventura o sangue não ferve de indig¬nação ante tal doutrina?" (Médium and Daybreak).

10.1.4. A QUEDA
"Nunca houve qualquer evidência de uma queda do homem" (A. Conan Doyle).
"Precisamos rejeitar o conceito de criaturas caídas. Pela queda deve-se entender a descida do espírito à matéria" (The True Light).

10.1.5. O INFERNO
"Posso dizer que o inferno é eliminado totalmente, como há muito tem sido eliminado do pensamento de todo homem sensato. Essa idéia odiosa, tão blasfema em relação ao Criador, originou-se do exagero de frases orientais, e talvez tenha tido sua utilidade em uma era brutal, quando os homens eram assustados com cha¬mas, como as feras são espantadas pelos viajantes" (A. Conan Doyle, em Outlines of Spiritualism).

10.1.6. A IGREJA
"Passo a passo avançou a Igreja Cristã, e ao fazê-lo, passo a passo a tocha do espiritismo foi retrocedendo, até que quase não se podia mais perceber uma fagulha brilhante em meio às trevas espessas... Por mais de mil e oitocentos anos a chamada Igreja Cristã se tem imposto entre os mortais e os espíritos, barrando toda oportunidade de progresso e desenvolvimento. Atualmente, ela se ergue como completa barreira ao progresso humano, como já fazia há mil e oitocentos anos" (Mmd and Matter, 08.05.1880).
"Se o Cristianismo sobreviver, o espiritismo deve morrer; e se o espiritismo tiver de sobreviver, o Cristianismo deve desaparecer. São a antítese um do outro..." (Mmd and Matter, junho de 1880).

10.1.7. A BÍBLIA
"Asseverar que ela [a Bíblia] é um livro santo e divino, e que Deus inspirou os seus escritores para tornar conhecida a vontade divina, é um grosseiro ultraje e um logro para com o público" (Outlines of Spiritualism).
"Gostamos pouco de discutir baseados na Bíblia, porque, além de a conhecermos mal, encontramos nela, misturados com os mais santos e sábios ensinamentos, os mais descabidos e inaceitáveis absurdos" (Carlos lmbassahy, O Espiritismo Analisado).


10.2. REFUTAÇÃO BÍBLICA DESSAS AFIRMAÇÕES ERRADAS
A Bíblia Sagrada, a espada do Espírito Santo, lança a doutrina espiritista por terra, e declara em alto e bom som, que:

10.2.1. DEUS
a. é um ser pessoal (Jo 17.3; SI 116.1,2; Gn 6.6; Ap 3.19);
b. é um ser único (Dt 6.4; Is 45.5,18; 1 Tm 1.17; Jd 25).

10.2.2. JESUS CRISTO
a. foi superior aos homens (Hb 7.26);
b. é apresentado na Bíblia como profeta, sacerdote e rei, e nunca como médium (At 3.19-24; Hb 7.26,27; Fp 2.9-11).

10.2.3. A EXPIAÇÃO
a. foi um ato voluntário de Cristo (Tt 2.14);
b. é alcançada como conseqüência da fé (At 10.43);
c. é adquirida pelo sangue de Cristo, segundo a riqueza da sua graça (Ef 1.7).

10.2.4. A QUEDA
a. sobreveio como conseqüência da desobediência de Adão (Rm 5.12,15,19);
b. decorreu da tentação do diabo (Gn 3.1-5; 1 Tm 2.14).

10.2.5. O INFERNO
a. foi preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25.41);
b. fica embaixo (Pv 15.24; Lc 10.15);
c. será a habitação final e eterna dos perversos (SI 9.7; Mt 25.41).

10.2.6. A IGREJA
a. foi fundada por Jesus Cristo (Mt 16.18);
b. jamais será vencida (Mt 16.18);
c. é guardada pelo Senhor (Ap 3.10).

10.2.7. A BÍBLIA
a. é a Palavra de Deus (2 Sm 22.31; SI 12.6; Jr 1.12);
b. foi escrita sob inspiração divina (1 Pe 2.20,21);
c. é absolutamente digna de confiança (SI 111.7);
d. é descrita como pura (SI 19.8), espiritual (Rm 7.14), santa, justa e boa (Rm 7.12), ilimitada (SI 119.96), perfeita (SI 19.7, Rm 12.2), verdadeira (SI 119.142), não pesada (1 Jo 5.3).
Disse Henrique Heine, o famoso poeta lírico alemão: "Depois de haver passado tantos e tantos longos anos de mi¬nha vida e correr as tabernas da filosofia, depois de me haver en¬tregue a todas as politiquices do espírito e ter participado de todos os sistemas possíveis, sem neles encontrar satisfação, ajoelho-me diante da Bíblia".

LIVRO SEITAS E HERESIAS

segunda-feira, 12 de abril de 2010

SOBRE O CATOLICISMO ROMANO DO LIVRO SEITAS E HERESIAS

O CATOLICISMO ROMANO
Até há bem pouco tempo, os melhores livros escritos sobre seitas e heresias não incluíam a Igreja Católica Romana no seu esquema de estudos, talvez devido ao fato de grande parte deles terem sido escritos em países onde essa igreja não exercia suficiente influência para ser notada como tal. Não é esse o caso do Brasil, onde a grande maioria dos membros de nossas igrejas, teoricamente, veio do catolicismo romano, já que essa igreja é ma¬joritária (pelo menos nominalmente) em nossa pátria desde o seu descobrimento, em 1500.

I. RESUMO HISTÓRICO DO CATOLICISMO
A Igreja Católica menciona o ano 33 d.C. como a data da sua fundação. Isto vem do fato de que toda ramificação do Cristianis¬mo costuma ligar a sua origem à Igreja fundada por Jesus Cristo. Porém, quanto ao desenvolvimento da organização eclesiástica e doutrinária da Igreja Romana, é muito difícil fixar com exatidão a data de sua fundação, porque o seu afastamento das doutrinas bíblicas deu-se paulatinamente.

1.1. COMEÇO DA DEGENERAÇÃO
Durante os primeiros três séculos da Era Cristã, a perseguição à Igreja verdadeira ajudou a manter a sua pureza, preservando-a de líderes maus e ambiciosos. Nessa época, ser cristão significava um grande desafio, e aqueles que fielmente seguiam a Cristo sabi¬am que tinham suas cabeças a prêmio, pois eram rejeitados e per¬seguidos pelos poderosos. Só os realmente salvos se dispunham a pagar esse preço.
Graças à tenacidade e coragem dos Pais da Igreja e dos famo¬sos apologistas cristãos, o combate da Igreja às heresias que surgi¬ram nessa época resultou numa expressão mais clara da teologia cristã. Quando os imperadores propuseram-se a exterminar a Igre¬ja Cristã, só os que estavam dispostos a renunciar o paganismo e a sofrer o martírio declaravam sua fé em Deus.
Logo no início do século IV, Constantino ascendeu ao posto de imperador. Isso parecia ser o triunfo final do Cristianismo, mas, na realidade, produziu resultados desastrosos dentro da Igreja. Em 312, Constantino apoiou o Cristianismo e o fez religião oficial do Império Romano. Proclamando a si mesmo benfeitor do Cristia¬nismo, achou-se no direito de convocar um Concilio em Nicéia, para resolver certos problemas doutrinários gerados por determi¬nados segmentos da Igreja. Nesse Concilio foi estabelecido o cha¬mado "Credo dos Apóstolos".


1.2. CAUSAS DA DECADÊNCIA DA IGREJA
A decadência doutrinária, moral e espiritual da Igreja come¬çou quando milhares de pessoas foram por ela batizadas e recebi¬das como membros, sem terem experimentado uma real conver¬são bíblica. Verdadeiros pagãos que eram, introduziram-se no seio da Igreja trazendo consigo os seus deuses, que, segundo eles, eram o mesmo Deus adorado pelos cristãos.
Nesse tempo, homens ambiciosos e sem o temor de Deus co-meçaram a buscar posições na Igreja como meio de obter influên¬cia social e política, ou para gozar dos privilégios e do sustento que o Estado garantia a tantos quantos fizessem parte do clero. Deste modo, o formalismo e as crenças pagas iam-se infiltrando na Igreja até o nível de paganizá-la completamente.

1.3. RAÍZES DO PAPADO E DA MARIOLATRIA
Desde o ano 200 a.C. até o ano 276 da nossa Era, os impera¬dores romanos haviam ocupado o posto e o título de Sumo Pontí¬fice da Ordem Babilônica. Depois que o imperador Graciano se negara a liderar essa religião não-cristã, Dâmaso, bispo da Igreja Cristã em Roma, foi nomeado para esse cargo no ano 378. Uni¬ram-se assim numa só pessoa todas as funções dum sumo sacer¬dote apóstata e os poderes de um bispo cristão.
Imediatamente depois deste acontecimento, começou-se a pro-mover a adoração a Maria como a Rainha do Céu e a Mãe de Deus. Daí procederam todos os absurdos romanistas quanto à hu¬milde pessoa de Maria, a mãe do Salvador.
Enquanto se desenvolvia a adoração a Maria, os cultos da Igreja de Roma perdiam cada vez mais os elementos espirituais e a per¬feita compreensão das funções sobrenaturais da graça de Deus. Formas pagas, como a ênfase sobre o mistério e a magia, influen¬ciaram essa igreja. O sacerdote, o altar, a missa e as imagens de escultura assumiram papel de preponderância no culto. A autori¬dade era centralizada numa igreja dita infalível e não na vontade de Deus, conforme expressada pela sua Palavra.

1.4. O CISMA ENTRE O ORIENTE E O OCIDENTE
O cisma entre o Oriente e o Ocidente logo tornou-se evidente. O rompimento final aconteceu, em 1054, com a Igreja Ocidental, ou Romana, sediada em Roma, então Capital do Império, por par¬te da Igreja Oriental, ou Ortodoxa, que assim separou-se da Igreja Romana, ficando sediada em Constantinopla, hoje Istambul, na Turquia. A Igreja Oriental guardou a primazia sobre os patriarcados de Jerusalém, Antioquia e Alexandria.
Desde então, a Igreja Romana, nitidamente desviada dos prin-cípios ensinados por Jesus no seu Evangelho, esteve como um barco à deriva, sem saber onde aportar. Até que veio a Reforma Protes¬tante, liderada por Martinho Lutero. Foi mais um cisma na já combalida Igreja Romana.

II. PAGANIZAÇÃO DA IGREJA ROMANA
Note a seguir o processo da gradual paganização da Igreja Católica Romana, desde que ela começou a abandonar a simplici¬dade do Evangelho de Cristo, até os nossos dias:

Século Ano Dogma ou Cerimônia
I-II 33-196 Nesse período da História, a Igreja não aceitou ne-nhuma doutrina anti-bíblica.
II 197 Zeferino, bispo de Roma, começa um movimento herético contra a divindade de Cristo.
III 217 Calixto se torna bispo de Roma, pondo-se à frente da propaganda herética e levando a Igreja de Roma para mais longe do caminho de Cristo.
III 270 Origem da vida monástica no Egito, por Santo Antônio.
IV 370 Culto dos santos professado por Basílio de Cesaréia e Gregório de Nazianzo. Primeiros indícios do turíbulo (incensário), paramentos e altares nas igre-jas, usos esses introduzidos pela influência dos pagãos convertidos.
IV 400 Orações pelos mortos e sinal da cruz feito no ar.
V 431 Maria é proclamada a "Mãe de Deus".
VI 593 O dogma do Purgatório começa a ser ensinado.
VI 600 O latim passa a ser usado como língua oficial nas VI celebrações litúrgicas.
VII 609 Começo histórico do papado.
VIII 758 A confissão auricular é introduzida na igreja por re-ligiosos do Oriente.
VIII 789 Início do culto das imagens e das relíquias.
IX 819 A festa da Assunção de Maria é observada pela pri-meira vez.
IX 880 Canonização dos santos.
X 998 Estabelecimento do Dia de Finados.
X 998 Quaresma.
X 1000 Cânon da Missa.
XI 1074 Proíbe-se o casamento para os sacerdotes.
XI 1075 Os sacerdotes casados devem divorciar-se, compulsoriamente, cada um de sua esposa.
XI 1095 Indulgências plenárias.
XI 1100 Introduzem-se na igreja o pagamento da missa e o culto aos anjos.
XI 1115 A confissão é transformada em artigo de fé.
XII 1025 Entre os cônegos de Lião aparecem as primeiras idéi-as da Imaculada Conceição de Maria.
XII 1160 Estabelecidos os 7 sacramentos.
XII 1186 O Concilio de Verona estabelece a "Santa Inquisição".
XII 1190 Estabelecida a venda de indulgências.
XII 1200 Uso do rosário por São Domingos, chefe da inquisição.
XII 1215 A transubstanciação é transformada em artigo de fé.
XIII 1220 Adoração à hóstia.
XIII 1226 Introduz-se a elevação da hóstia.
XIII 1229 Proíbe-se aos leigos a leitura da Bíblia.
XIII 1264 Festa do Sagrado Coração.
XIII 1303 A Igreja Católica Apostólica Romana é proclamada como sendo a única verdadeira, e somente nela o homem pode encontrar a salvação...
XIV 1311 Procissão do Santíssimo Sacramento e a oração da Ave-Maria.
XIV
XV 1414 Definição da comunhão com um só elemento, a hós-tia. O uso do cálice fica restrito ao sacerdote.
XV 1439 Os 7 sacramentos e o dogma do Purgatório são trans¬formados em artigos de fé.
XVI 1546 Conferida à Tradição autoridade igual a da Bíblia.
XVI 1562 Declara-se que a missa é oferta propiciatória e con-firma-se o culto aos santos.
XVI 1573 É estabelecida a canonicidade dos livros apócrifos.
XIX 1854 Definição do dogma da Imaculada Conceição de Maria.
XIX 1864 Declaração da autoridade temporal do papa.
XIX 1870 Declaração da infalibilidade papal.
XX 1950 A assunção de Maria é transformada em artigo de fé.


Vale salientar que alguns dos dados aqui registrados são ape¬nas aproximados, pois muitas e muitas vezes as doutrinas eram discutidas, algumas durante séculos, antes de serem finalmente aceitas e promulgadas como artigos de fé, ou dogmas. Um exem¬plo disto é o dogma do Purgatório, introduzido na Igreja Romana em 593, mas só declarado artigo de fé no ano de 1439.

III. É PEDRO O FUNDAMENTO DA IGREJA?
A Igreja Católica Romana considera o apóstolo Pedro como a pedra fundamental sobre a qual Cristo edificou a sua Igreja. Para fundamentar esse ensino, apela, principalmente, para a passagem de Mateus 16.16-19: "E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as cha¬ves do Reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus".
Dessa passagem, a Igreja Romana deriva o seguinte raciocínio:
a. Pedro é a rocha sobre a qual a Igreja está edificada.
b. A Pedro foi dado o poder das chaves, portanto, só ele detém o poder de abrir a porta do Reino dos céus.
c. Pedro tornou-se o primeiro bispo de Roma.
d. Toda autoridade foi conferida a Pedro até nossos dias, atra¬vés da linhagem de bispos e papas, todos vigários de Cristo na Terra.

3.1. UMA INTERPRETAÇÃO ABSURDA
Partindo deste raciocínio, o padre Miguel Maria Giambelli põe o versículo 19 de Mateus 16 nos lábios de Jesus, da seguinte ma¬neira: "Nesta minha Igreja, que é o reino dos céus aqui na terra, eu te darei também a plenitude dos poderes executivos, legislativos e judiciários, de tal maneira que qualquer coisa que tu decretares, eu a ratificarei lá no Céu, porque tu agirás em meu nome e com a minha autoridade" (A Igreja Católica e os Protestantes, p. 68).
Numa simples comparação entre a teologia vaticana e a Bí¬blia, a respeito do apóstolo Pedro e sua atuação no seio da igreja nascente, descobre-se quão absurda é a interpretação romanista a respeito da pessoa e ministério desse apóstolo do Senhor. Mesmo numa despretensiosa análise do assunto, conclui-se que:
1) Pedro jamais assumiu no seio do Cristianismo nascente a posição e as funções que a teologia católico-romana procura atri¬buir-lhe.
O substantivo feminino petra designa do grego uma rocha gran¬de e firme. Já o substantivo masculino petros é aplicado geralmen¬te a pequenos blocos rochosos, móveis, bem como a pedras pe¬quenas, tais como a pedra de arremesso. Pedro é petros = bloco rochoso e móvel e não petra = rocha grande e firme. Portanto, uma igreja sobre a qual as portas do inferno não prevaleceriam não poderia repousar sobre Pedro.
2) De acordo com a Bíblia, Cristo é a pedra. "Estavas vendo isso, quando uma pedra foi cortada, sem mão, a qual feriu a está¬tua nos pés de ferro e de barro e os esmiuçou" (Dn 2.34).
"Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina" (Ef 2.20).
Nestes versículos, "pedra" se refere a Cristo e não a Pedro.
Diz o apóstolo Pedro: "Este Jesus é a pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular" (At 4.11, cf. Mc 12.10e 11). (Se desejar leia ainda Romanos 2.20; 9.33; 1 Coríntios 10.4 e 1 Pedro 2.4.)

3-2. O TESTEMUNHO DOS PAIS DA IGREJA
Dos oitenta e quatro Pais da Igreja antiga, só dezesseis crêem que o Senhor se referia a Pedro quando disse "esta pedra". Dos outros Pais da Igreja, uns dizem que esta expressão se refere à pessoa de Cristo mesmo, outros, à confissão que Pedro acabara de fazer, e outros, ainda, a todos os apóstolos. Portanto, se apelarmos para os Pais da Igreja dos primeiros quatro séculos, as pretensões da Igreja Romana com referência a Pedro, redundam em sofismas.
Só a partir do século IV começou-se a falar a respeito da pos-sibilidade de Pedro ser a pedra fundamental da Igreja, e isto estava intimamente relacionado com a pretensão exclusivista do bispo de Roma.
À luz das palavras do próprio apóstolo Pedro, Cristo é apetra (= rocha grande e firme): "Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa" (1 Pe 2.4).
Todos os crentes são petros = blocos rochosos e moveis, "...vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espiri¬tuais, agradáveis a Deus, por intermédio de Jesus Cristo" (1 Pe 2.5).

IV. O ALEGADO PRIMADO DE PEDRO
Da interpretação doutrinária que a Igreja Católica Romana faz de Mateus 16.16-19, deriva outro grande erro: o ensino de que Jesus fez de Pedro o "Príncipe dos Apóstolos", pelo que veio a se tornar o primeiro bispo de Roma, do qual os papas, no decorrer dos séculos, são legítimos sucessores.
Esteve Pedro em Roma alguma vez?
Há uma opinião sobre uma remota possibilidade de que Pedro tenha estado em Roma.
Oscar Cullman, teólogo alemão, escreve: "A primeira carta de Pedro... alude em sua saudação final (5.13) à estada de Pedro em
Roma, ao falar de 'Babilônia' como lugar da comunidade que en-via saudações, pois que a opinião mais provável é que 'Babilônia' designa Roma".
Também Lietzmann, em sua obra Petrus and Paulus in Rome (Pedro e Paulo em Roma), assim se expressa sobre o assunto:
"Mais importante, porém, é a debatida afirmação de que Pedro, no decurso de sua atividade missionária, tenha chegado a Roma e aí morrido como mártir. Visto que esta questão está inti¬mamente relacionada com a pretensão romana ao primado, freqüentemente a polêmica confessional influi na discussão. A resposta a ela só pode ser fruto de pesquisa histórica desinteres¬sada. Como, porém, ao lado das fontes neotestamentárias, vêm, em consideração, principalmente testemunhos extra e pós-canônicos da literatura cristã antiga, e, além disto, documentos litúrgicos posteriores, e ainda escavações recentes, esta questão não pode ser aqui discutida em todos os seus pormenores. Que¬remos apenas lembrar que, até a segunda metade do século II, nenhum documento afirmava expressamente a estada e martírio de Pedro em Roma".

4.1. PEDRO, UM PAPA DIFERENTE
Tenha ou não estado em Roma, o fato é que, se Pedro foi papa, foi um papa diferente dos demais que apareceram até agora. Se não, vejamos:
a. Pedro era financeiramente pobre (At 3.6).
b. Pedro era casado (Mt 8.14,15).
c. Pedro foi um homem humilde, pelo que não aceitou ser adorado pelo centurião Cornélio (At 10.25,26).
d. Pedro foi um homem repreensível (Gl 2.11-14).
É de estranhar que Tiago — e não Pedro, o "Príncipe dos Apóstolos", como ensina a teologia vaticana, fosse o pastor da comunidade cristã em Jerusalém (At 15). Se Pedro tivesse sido papa, cer¬tamente não teria aceito a orientação dos líderes da Igreja quanto à obra missionária (At 15.7). Se Pedro tivesse sido papa, a ordem das "colunas", conforme Paulo escreve em Gálatas 2.9, seria: "Cefas, Tiago e João", e não "Tiago, Cefas e João".

4.2. O PAPA, UM PEDRO DIFERENTE
A própria história do papado é uma viva demonstração de que os papas jamais conseguiram provar serem sucessores do apóstolo Pedro, já que em nada se assemelham àquele inflamado, mas hu¬milde, servo do Senhor Jesus Cristo.
Vejamos, por exemplo:
a. Os papas são administradores de grandes fortunas da igreja. O clérigo José Maria Alegria, da Universidade Gregoriana de Roma, declarou, no final do ano de 1972, que o balanço financeiro do Vaticano dispunha de um ativo de um bilhão de dólares.
b. Os papas são celibatários, isto é, não se casam, não obstante ensinarem que o casamento é um sacramento.
c. Os papas freqüentemente aceitam a adoração dos homens.
d. Os papas consideram-se infalíveis nas suas decisões e decretos.

V. O PURGATÓRIO
A idéia do Purgatório tem suas raízes no budismo e em outros sistemas religiosos da antigüidade. Até a época do papa Gregório I, porém, o Purgatório não havia sido oficialmente reconhecido como parte integrante da doutrina romanista.
Esse papa adicionou o conceito de fogo purificador à crença, então corrente, de que havia um lugar entre o céu e o inferno, para onde eram enviadas as almas daqueles que não eram tão maus, a ponto de merecerem o inferno, mas também, não eram tão bons, a ponto de merecerem o céu. Assim, surgiu a crença de que o fogo do Purgatório tem poder de purificar a alma e todas as suas escóri¬as, até fazê-la apta a se encontrar com Deus.

5.1. ALEGADAS RAZÕES DESSE DOGMA
Buscando provar a existência do Purgatório, a Igreja Romana apela para algumas passagens bíblicas, das quais extrai apenas fal¬sas inferências, e nada mais. Entre os versículos preferidos, desta¬cam-se os seguintes:
• "Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do ho¬mem ser-lhe-á isso perdoado; mas se alguém falar contra o Espíri¬to Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir" (Mt 12.32).
• "Digo-vos que toda palavra frívola que proferirem os ho¬mens, dela darão conta no dia de juízo" (Mt 12.36).
• "...se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo" (1 Co 3.15).

5.2. UMA DESCRIÇÃO DO PURGATÓRIO
De acordo com a teologia romanista, o Purgatório, além de ser um lugar de purificação, é também um lugar onde a alma cum¬pre pena; pelo que o fogo do Purgatório deve ser temido grande¬mente. O fogo do Purgatório será mais terrível do que todo o sofri¬mento corporal reunido. Um único dia nesse lugar de expiação poderá ser comparado a milhares de dias de sofrimentos terrenos.
O escritor católico Mazzarelli faz seus cálculos à base de trin¬ta pecados veniais por dia, e, para cada pecado, um dia no Purga¬tório, perfazendo um total de mil e oitocentos anos, caso o peca¬dor tenha sessenta anos de vida na Terra, devendo-se acrescentar aos veniais os pecados mortais absolvidos, mas não plenamente expiados.

5.3. QUEM VAI PARA O PURGATÓRIO?
A pergunta: Que espécie de gente vai para o Purgatório? — responde o papa Pio IV: "1. Os que morrem culpados de pecados menores, que costumamos chamar veniais, e que muitos cristãos cometem — e que, ou por morte repentina, ou por outra razão, são chamados desta vida, sem que se tenham arrependido destas faltas ordinárias. 2. Os que, tendo sido formalmente culpados de peca¬dos maiores, não deram plena satisfação deles à justiça divina" (A Base da Doutrina Católica Contida na Profissão da Fé).


Pátio da Catedral de São Pedro, em Roma, centro de peregrinação e de paganização do mundo

Apesar do fato de as almas no Purgatório, segundo o ensino da Igreja Romana, terem sido já justificadas no batismo e pelo batismo, a justiça divina, contudo, não ficou plenamente satisfei¬ta. Desse modo, a alma, embora escape do inferno, precisa supor¬tar, por causa dos seus pecados que ainda restam por expiar depois da morte, a punição temporária do Purgatório. Isso foi categorica¬mente afirmado pelo Concilio de Trento: "Se alguém disser que, depois de receber a graça da justificação, a culpa é perdoada ao pecador penitente, e que é destruída a penalidade da punição eter¬na, e que nenhuma punição fica para ser paga, ou neste mundo ou no futuro, antes do livre acesso ao reino a ser aberto, seja anátema" (Seção VI).

5.4. SUFRÁGIOS PELOS QUE SE ACHAM NO PURGATÓRIO
Entre o que pode assistir aos que se encontram no Purgatório, há três atos que se destacam no ensino romanista, que são:

5.4.1. ORAÇÕES PELOS MORTOS
E de se supor que a prática romanista de interceder pelos mor¬tos tenha-se gerado da falsa interpretação às seguintes palavras de Paulo: "Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súpli¬cas, orações, intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens" (1 Tm2.1).

5.4.2. MISSAS
As missas são tidas como os principais recursos empregados em benefício das almas que estão no Purgatório, pois, segundo o ensino romanista, a missa beneficia não só a alma que sofre no Purgatório, como também acumula méritos àqueles que as mandam dizer.

5.4.3. ESMOLAS
Dar esmolas com a intenção de aplicá-las nas necessidades da alma que pena no Purgatório "é jogar água nas chamas que a de¬voram". Pretende a Igreja Romana que, "exatamente como a água apaga o fogo mais violento, assim a esmola lava o pecado".
Ainda sobre o Purgatório, o Concilio de Trento declarou: "Des¬de que a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo nos sagra¬dos escritos e pela antiga tradição dos Pais, tem ensinado nos san¬tos concílios, e ultimamente, neste Concilio Ecumênico, que há o Purgatório, e que as almas nele retidas são assistidas pelos sufrá¬gios das missas, este santo concilio ordena a todos os bispos que, diligentemente, se esforcem para que a salutar doutrina concernente ao Purgatório — transmitida a nós pelos veneráveis pais e sagra¬dos concílios — seja crida, sustentada, ensinada e pregada em toda parte pelos fiéis de Cristo" (Seção XXV).

5.5. REFUTAÇÃO
O Purgatório não é somente uma fábula engenhosamente mon-tada, mas a sua doutrina se constitui num vergonhoso sacrilégio à honra de Deus e num desrespeito à obra perfeita efetuada por Cristo na cruz do Calvário. Essa doutrina, além de absurda e cruel, supõe os seguintes disparates e blasfêmias:
• Não obstante Deus declare que já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1), contudo, Ele se con¬tradiz a si mesmo quando lança o salvo no Purgatório, para expiar os pecados já purgados.
• Deus não queima os seus filhos no Purgatório para satisfazer à sua justiça já satisfeita pelo sacrifício de Cristo, mas para satis¬fazer a si mesmo!
• Ao lançar seus filhos no Purgatório, Deus está com isto di¬zendo que o sacrifício do seu Filho foi imperfeito e insuficiente!
• Jesus, que dos céus intercede pelos pecadores, vê-se impos-sibilitado de livrar as almas que estão no Purgatório, porque só o papa possui a chave daquele cárcere!
• Dizer que as almas expiam suas faltas no Purgatório é atri¬buir ao fogo o poder do sacrifício de Jesus, e ignorar completa¬mente a obra que Cristo efetuou no Gólgota!
• Que o castigo do pecado fica para depois de perdoado!
Estes disparates provêm dum erro da teologia vaticana, se¬gundo o qual a obra expiatória de Cristo satisfez a pena devida aos pecados cometidos antes do batismo, e não daqueles que foram cometidos posteriormente.
Todas estas incoerências sobre o dogma do Purgatório estão em contradição com as seguintes afirmações bíblicas:
a. Quanto à perfeita libertação do pecado (Jo 8.32,36).
b. Quanto ao completo livramento do juízo vindouro (Jo 5.24).
c. Quanto à completa justificação pela fé (Rm 5.1,2).
d. Quanto à intercessão de Cristo (1 Jo 2.1).
e. Quanto ao atual estado dos salvos mortos (Lc 23.43;Ap 14.13).
f. Quanto à bem-aventurada esperança do salvo (Fp 1.21,23;2Co5.8).
O que a Igreja Católica Romana chama "Purgatório", a Bíblia chama "Gehenna", ou "Inferno", lugar de suplício eterno, de onde aqueles que nele são lançados, jamais sairão (leia Lucas 16.19-31 e veja que nada poderá ser feito em favor daqueles infelizes que são lançados nesse lugar de terrível suplício). A esses está ordena¬do morrerem uma só vez, vindo depois disto o juízo (Hb 9.27), quando serão julgados e condenados ao Lago de Fogo.
A salvação oferecida por Cristo é uma salvação perfeita e to¬tal, pois ela é o resultado da misericórdia de Deus e do sangue do seu amado Filho.
"Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1.7,9).
O purgatório do crente é o sangue de Jesus.

VI. A TRADIÇÃO E A BÍBLIA
Em 1929, sobre a Bíblia, escreveu o padre Bernhard Conway: "A Bíblia não é a única fonte de fé, como Lutero en¬sinou no século XVI, porque, sem a interpretação de um apostolado divino e infalível, separado da Bíblia, jamais pode¬remos saber, com certeza, quais são os livros que constituem as Escrituras inspiradas, ou se as cópias que hoje possuímos con¬cordam com os originais. A Bíblia, em si mesma, não é mais do que letra morta, esperando por um intérprete divino; ela não está arranjada de forma sistemática; é obscura, e de difícil en-tendimento, como São Pedro diz de certas passagens das Car¬tas de Paulo (2 Pe 3.16, cf. At 8.30,31); como ela é, está aberta à falsa interpretação. Além disso, certo número de verdades reveladas têm chegado a nós, somente por meio da Tradição divina" (The Question Box).
No Compêndio do Vaticano II, lê-se o seguinte: "Não é atra¬vés da Escritura apenas que a Igreja deriva sua certeza a respeito de tudo que foi revelado. Por isso ambas (Escritura e Tradição) devem ser aceitas e veneradas com igual sentido de piedade e re¬verência" (p. 127).

6.1. ESTABELECIDA A TRADIÇÃO
Desde que muitas inovações anticristãs começaram a ser acei¬tas pela Igreja Romana, esta começou a ter dificuldades em como justificá-las à luz das Escrituras. Desse modo, em vez de deixar o paganismo e voltar-se para a Bíblia, o clero fez exatamente o con¬trário: no Concilio de Tolosa, em 1229, tomaram a medida extre¬ma de proibir o uso da Bíblia pelos leigos.
Até a Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana não ha¬via ainda tomado nenhuma posição no sentido de conferir à Tradição autoridade igual à da Bíblia Sagrada. Isto devido à generaliza¬da ignorância do povo a respeito das Escrituras. Porém, com o advento da Reforma Protestante no século XVI, o valor da Bíblia, como única regra de fé e prática do cristão, foi exaltado, e a sua mensagem pregada onde quer que se fizesse sentir a influência desse evento. Como a maioria dos dogmas da Igreja Romana não tivesse o apoio da Bíblia, o clero em mais uma demonstração de rejeição das Escrituras, foi levado a estabelecer a Tradição como autoridade para apoiar os seus dogmas e enganos.
A ênfase bíblica da mensagem reformada forçou o clero da Igreja Romana a reavaliar a decisão do Concilio de Tolosa, e pas¬sou a permitir a leitura da Bíblia pelos leigos, desde que satisfeitas as seguintes exigências:
a. Que a Bíblia fosse editada ou autorizada pelo clero;
b. Que os leigos não formassem juízo próprio dos seus ensinos;
c. Que os leigos só aceitassem a sua interpretação quando fei¬ta pelo clero.
Impedidos de interpretar a Bíblia por si mesmos, os leigos estavam privados da possibilidade de ver quão desrespeitosos à Bíblia são os dogmas acobertados pela Tradição. Só dessa forma, os dogmas fundamentados na Tradição estariam resguardados de julgamento e a Bíblia reduzida, assim, a um livro ininteligível e destituído de autoridade.
"A questão da autoridade na Igreja Romana foi sempre uma dolorosa questão, mas a História revela que a sua tendência sem¬pre foi de flutuar de um para outro ponto, com propensão para fincar-se no papado. Esta foi a evolução da autoridade: das Escri¬turas para a Tradição, desta para a Igreja, da Igreja para o clero e deste para o papado que, em 1870, diria: A tradição sou eu" (Fé e Vida, maio de 1943).

6.2. TRADIÇÃO, TRAIÇÃO AO EVANGELHO
A Tradição da Igreja Romana é, sem dúvida alguma, um "ou¬tro evangelho" (Gl 1.8); antítese do Evangelho do Senhor Jesus
Cristo. Ela não tinha lugar na igreja primitiva. O Evangelho só, contém "todo o conselho de Deus" (At 20.27), dispensando, por¬tanto, a tradição vaticana.
Paulo, o maior escritor e doutrinador do Novo Testamento, cujo ministério estava fundamentado no Evangelho, falou sobre a suficiência deste quando escreveu: "Antes de tudo vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, se¬gundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Co 15.3,4, ênfase do autor).
A Tradição não pode resistir a uma análise por parte de famo¬sos cristãos da antigüidade, tampouco diante das Escrituras.
Cipriano, no século III, disse: "A tradição, sem a verdade, é o erro envelhecido".
Tertuliano afirmou: "Cristo se intitulou a Verdade, mas não a tradição... Os hereges são vencidos com a Verdade e não com no-vidades".
No ano 450, disse Venâncio: "Inovações são coisas de hereges e não de crentes ortodoxos".
Jerônimo, o tradutor da "Vulgata", tradução oficial da Bíblia usada pela Igreja Romana, escreveu: "As coisas que se inventam e se apresentam como tradições apostólicas, sem autoridade e teste¬munho das Escrituras, serão atingidas pela Espada de Deus".
A Confissão de Fé de Westminster traz num dos seus decretos algo que os católicos deveriam ler e não esquecer, que diz: "O Supremo Juiz, pelo qual todas as controvérsias de religião são de¬terminadas e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e espíritos privados serão examina¬dos e cujas sentenças devemos acatar, não pode ser outro senão o Espírito Santo, falando através das Escrituras."

VII. A VIRGEM MARIA
A essência da adoração na Igreja Católica Romana gira não em torno do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas da pessoa da Virgem
Maria. No decorrer dos séculos as mais diferentes e absurdas crendi¬ces têm sido criadas em torno da humilde mãe do Salvador.

7.1. A TEOLOGIA MARIANA
Decreta o Concilio Vaticano II: "Os fiéis devem venerar a memória primeiramente da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo".
Dentre as muitas declarações em torno de Maria, destacam-se as seguintes:

7.1.1. CONCEBIDA SEM PECADO
"Daí não admira que nos Santos Padres prevalece o costume de chamar a Mãe de Deus toda santa, imune de toda mancha de pecado, como que plasmada pelo Espírito Santo e formada nova criatura" (Compêndio Vaticano II, p. 105).

7.1.2. SEMPRE VIRGEM
"Maria sempre foi virgem: Esta é doutrina tradicional da Igre¬ja Católica. No entanto a grande maioria das Igrejas Protestantes afirma que Maria não guardou a sua virgindade e teve outros fi¬lhos além de Jesus" (A Igreja Católica e os Protestantes, p. 88).

7.1.3. MEDIANEIRA E INTERCESSORA
"A Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Adjutriz, Medianeira" (Com¬pêndio Vaticano II, p. 109).

7.2. O CÚMULO DO ABSURDO
Há alguns anos foi publicado na imprensa de uma capital lati¬no-americana um discurso de um cardeal católico-romano. O emi¬nente prelado recorda este sonho. Ele sonhou que estava na cidade celestial. Ouviu-se bater à porta. Foi comunicado a Deus que um pecador da Terra estava pedindo entrada. "Cumpriu ele as condi¬ções?" foi a pergunta. A resposta foi: "Não!" "Então não pode entrar", foi o veredicto. Nesse ponto, a virgem Maria, que estava sentada à direita do seu Filho, falou: "Se esta alma não entrar eu me ponho fora". A porta abriu-se e o pecador entrou.

7.3.0 TESTEMUNHO DAS ESCRITURAS
Invocando o testemunho das Escrituras, concluímos que:

7.3.1. MARIA NÃO FOI CONCEBIDA SEM PECADO
O que a Bíblia declara é que "todos pecaram e carecem da glória de Deus" (Rm 3.23). Só a respeito de Cristo é que pode ser dito: "Com efeito nos convinha um sumo sacerdote, assim como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores, e feito mais alto do que os céus" (Hb 7.26).

7.3.2. MARIA TEVE OUTROS FILHOS
Além de João 2.12, o Novo Testamento se refere aos irmãos de Jesus, ainda em Mateus 12.46; 13.55,56; Marcos 3.31; Lucas 8.19; João 7.3,5,10; Atos 1.14; 1 Coríntios 9.5 e Gálatas 1.19. Os ensinadores romanistas dizem que aqueles a quem o Novo Testa¬mento chama de irmãos de Jesus, na realidade são seus primos. Esta interpretação é errônea e visa fortalecer o dogma da perpétua virgindade de Maria (leia Lucas 1.36, e veja que irmãos e primos são distintos no Novo Testamento).
O fato de Maria ter sido virgem no ato da concepção de Jesus é ponto pacífico nas Escrituras, porém, afirmar que ela continuou virgem após o parto é antítese de Mateus 1.25: "Contudo, não a conheceu, enquanto não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus".

7.3.3. MARIA NÃO EXERCE MEDIAÇÃO A FAVOR DO PECADOR
"Porque há um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem" (1 Tm 2.5). "Se, todavia, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo" (1 Jo 2.1).

7-3-4- Só CRISTO INTERCEDE PELO PECADOR
"Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7.25).
Epifânio, grande apologista cristão do século IV, diz o seguin¬te aos católicos de hoje:
"Não se devem honrar os santos além do que é justo, mas deve-se honrar o Senhor deles. Maria, de fato, não é Deus nem recebeu do céu o seu corpo, mas de uma concepção de um homem e de uma mulher. Santo é o corpo de Maria; ela é virgem e digna de muita honra mas não foi dada para adoração, antes, ela adora aquele que nasceu da sua carne. Honre-se Maria, mas adore-se o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ninguém adore a Virgem Maria".
Ao mesmo tempo, disse Ambrósio de Milão: "Maria era o templo de Deus, não o Deus do templo. Deve-se adorar então so¬mente aquele que opera no templo".

VIII. A MISSA
Dentre os muitos chamados "sacramentos" da Igreja católica Romana, destaca-se a missa.

8.1. DEFINIÇÃO DA MISSA
O que a missa é no contexto do Catolicismo Romano é defini¬do pelo padre Miguel Maria Giambelli:
"O que nós, católicos, chamamos 'missa', os primeiros cris¬tãos de Jerusalém chamavam de 'partir do pão', porque foi exata¬mente isto o que fez Jesus na última ceia: 'Tomou o pão, deu gra¬ças e partiu...'" S. Paulo lembra aos coríntios que todas as vezes que eles se reúnem para comer deste pão e beber deste cálice, anunciam a morte do Senhor, isto é, eles renovam o sacrifício do Calvário.
"O apóstolo Paulo alerta os coríntios de que aquele pão e aquele vinho, após as palavras consagradas, não são mais pão e vinho comuns, mas são algo de misterioso que esconde o corpo sagrado de Jesus, e quem, portanto, se atrever e comer deste pão e beber deste vinho sem as devidas condições espirituais, comete uma pro¬fanação tão sacrílega que o torna réu de um crime contra o corpo e o sangue do Senhor Jesus. Daí porque São Paulo continua alertando os coríntios a tomarem muito a sério o ato de comer deste pão e beber deste cálice consagrado na eucaristia, porque quem os come e bebe sem crer firmemente que são corpo vivo de Cristo, e, por¬tanto, sem fazer distinção entre o pão comum da padaria e pão consagrado 'come e bebe sua própria condenação!'" (A Igreja Católica e os Protestantes, p. 27).
Deste ensino deduz-se que Giambelli afirma:

a. Missa e santa ceia do Senhor são a mesma coisa.
b. A missa renova o sacrifício do Calvário.
c. O pão e o vinho usados na missa são transubstanciados no próprio corpo de Cristo no momento da celebração.
d. Quem não diferençar o pão que é servido na missa do que é vendido na padaria, "come e bebe sua própria condenação".

8.2.0 QUE DIZEM AS ESCRITURAS
Esse ensino é errado, portanto, contrário àquilo que as Escri¬turas Sagradas ensinam.
O recurso que a Igreja Romana usa para confundir o significa¬do da expressão "... em memória..." com a palavra "... renovar", se constitui numa incoerência, primeiro à luz da Bíblia, e depois à luz da gramática. No Dicionário da Língua Portuguesa, de Augusto Miranda, a expressão "em memória" tem como sinônimo a ex¬pressão "em lembrança"; enquanto a palavra "renovar" tem como sinônimo a palavra "recompor". Portanto, uma nada tem a ver com a outra.
Se a morte de um amigo nos vem à memória, isto não é a mesma coisa que renová-la. Existem vários versículos na Bíblia que falam da impossibilidade de se renovar o sacrifício de Cristo, entre os quais se destacam: Hebreus 7.26,27; 10.12-14; 1 Pedro 3.18 e Romanos 6.9.

8.3. O PROBLEMA DA TRANSUBSTANCIAÇÃO
Não há um só versículo nas Escrituras em apoio à tese do Concilio de Trento de que o pão e o vinho usados na missa, ao serem consagrados, tornam-se, ou transubstanciam-se, em Jesus, física e espiritualmente, assim como Ele está no céu. Veja, por exemplo:
a. Mesmo após a ressurreição, não obstante gozando do privi¬légio de um corpo espiritual, Jesus não bilocou-se, isto é, Ele não esteve em dois lugares ao mesmo tempo. Se estava em Emaús, não estava em Jerusalém. Ele estava num só lugar de cada vez. Como pretende, pois, a teologia vaticana provar que Jesus esteja fisica¬mente, tanto no céu como nas hóstias espalhadas nos sacrários dos templos católicos por todo o mundo?
b. Quando Jesus diz: "E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28.10), Ele não sugere que estaria fisicamente através do pão e do vinho da missa, mas espiri¬tualmente, assim como esteve com Paulo, conforme Atos 18.9,10.
c. O corpo de Cristo hoje na Terra não é o pão e o vinho usa¬dos na celebração da missa, mas a sua Igreja, conforme mostram as seguintes passagens bíblicas: 1 Coríntios 10.16,17; 12.27; Efésios 1.22,23; 4.15,16; 5.30.
Outra prova de que missa e santa ceia do Senhor são cerimô¬nias diferentes, é que na missa os comungantes só tomam um ele¬mento (a hóstia) enquanto o vinho é tomado exclusivamente pelo padre celebrante, quando a ordem novitestamentária é: "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice" (1 Co 11.28).

IX. OS LIVROS APÓCRIFOS
Muitas perguntas têm sido feitas e muitas questões têm sido levantadas quanto aos livros apócrifos. Os católicos chegam mesmo a afirmar que a Bíblia usada pelos evangélicos (aos quais cha¬mam "protestantes") é incompleta e falha por faltarem nela os li¬vros apócrifos. Muitos evangélicos, por sua vez, perguntam por que a nossa Bíblia não contém tais livros.

9.1. DEFINIÇÃO DE "APÓCRIFO"
Empregamos aqui o termo apócrifo num sentido restrito, for¬çando um pouco o sentido original da palavra, e pondo de parte o caráter de certos escritos, aos quais o referido termo se aplica. A palavra "apócrifo", literalmente, significa "oculto". Porém, no decorrer dos tempos e em razão do uso, o termo já não tem o sen¬tido de "oculto", mas de "espúrio", isto é, "não-puro".
No tempo da Reforma, o termo "apócrifo" foi definitivamente aplicado a esses livros não-canônicos contidos na Vulgata, pois não faziam parte do cânon hebraico. Seu significado oposto ao termo "canônico" acarretou, para esses livros, o desprezo que se sentia pela literatura apocalíptica e oculta, tanto judaica como cristã-judaica.

9.2. RELAÇÃO DOS APÓCRIFOS
O número de livros apócrifos vai muito além daqueles que a Bíblia de uso católico contém, porém os mais conhecidos, e aqui citados, são aqueles que foram aprovados pela Igreja Católica no Concilio de Trento, em 1546. Destes, mais da metade são inseridos nas Bíblias de edição católica. Alguns desses livros são também inseri¬dos em Bíblias de editoras protestantes, para estudo e investigação da crítica textual e devido ao seu relativo valor histórico.
Os apócrifos consistem em livros assim chamados, e em acrés-cimos a livros canônicos. A sua aprovação pela Igreja Católica deu-se, como já dissemos, em 1546, no Concilio de Trento, em meio a intensa controvérsia, havendo inclusive luta física resul¬tante da contenda e dos debates em torno deles. Os livros, e acrés¬cimos a livros canônicos, aprovados, foram os seguintes: Tobias, Judite, acréscimo ao livro canônico de Ester, Sabedoria de Salomão,
Eclesiástico, Baruque (contendo a Epístola de Jeremias), Cântico dos Três Santos Filhos (acréscimo a Daniel), História de Susana e Bel e o Dragão (também acréscimos a Daniel), 1 e 2 Macabeus.
Eram 14 os principais apócrifos do Antigo Testamento. Des¬tes, os não reconhecidos pelo Concilio de Trento foram 1 e 2 Esdras e A Oração de Manasses.

9.3. QUESTÕES A CONSIDERAR
Por que estes livros são considerados apócrifos e não canônicos? A razão óbvia é que eles não suportam uma prova de canonicidade, como é mostrado a seguir:
• Eles nunca fizeram parte do cânon hebraico.
• Eles nunca foram citados no Antigo Testamento.
• Joséfo, o historiador judeu, os omite em seus escritos.
• Nenhum deles reclama a inspiração divina para si.
• Eles contêm erros históricos, geográficos e cronológicos.
• Eles ensinam e apóiam doutrinas que são contrárias às Escri-turas em geral.
• Como literatura, às vezes não passam de mitos e lendas.
• Em geral, seu nível espiritual e moral deixa muito a desejar.
• Jesus não os cita em seus escritos.
• Os apóstolos e escritores dos Evangelhos, das Epístolas e do Apocalipse não se referem a eles nos seus escritos.
• Os famosos Pais da Igreja primitiva não se reportam a eles como fonte de inspiração dos seus escritos.
• Eles foram escritos muito tempo depois de encerrado o cânon do Antigo Testamento.
Certamente que nem todas as igrejas têm a mesma opinião quanto ao valor dos apócrifos. A Igreja Reformada, por exemplo, sempre considerou os livros não-canônicos como de relativo va¬lor, "para exemplo de vida e instrução de costumes, ainda que sem autoridade em matéria de fé".

PARÁBOLA DAS ÁVORES

Parábola das árvores
(Jz 9:7-15)

Essa parábola contada aos ho¬mens de Siquém por Jotão, filho mais novo de Gideão e único sobre¬vivente do massacre de seus 70 ir¬mãos por Abimeleque (outro irmão) é outra profecia em forma de pará¬bola, uma vez que se cumpriu. Abimeleque, filho bastardo de Gideão, aspirava a ser rei e persua¬diu os homens de Siquém a matar todos os 70 filhos legítimos de seu pai (exceto o que escapou) e o pro¬clamarem rei. Jotão, o sobreviven¬te, subindo ao monte Gerizim, pro¬feriu a parábola ao rei e ao povo, fugindo em seguida.
Muitos estudiosos discordam da natureza parabólica do pronuncia-mento de Jotão. Por exemplo, o dr. E. W. Bullinger, em Figures ofspeech [Figuras de linguagem], diz: "Não se trata de parábola, porque não há nenhuma comparação, na qual uma coisa é equiparada a outra [...] Quando árvores ou animais falam ou pensam, temos uma fábula; e, quando essa fábula é explicada, te¬mos uma alegoria. Se não fosse a oração explicativa 'fazendo rei a Abimeleque' (9:16), o que a torna uma alegoria, teríamos uma fábu¬la". O dr. A. T. Pierson refere-se a ela como "a primeira e mais antiga alegoria das Escrituras [...] Uma das mais lindas, de todas as fábu¬las ou apólogos de todo o universo literário". O professor Salmond igualmente refere-se a ela como "um exemplo legítimo de fábula [...] os elementos grotescos e improváveis que a tornam um meio inadequado para expressar a mais sublime ver¬dade religiosa".
Ellicott comenta: "nesse capítulo temos o primeiro 'rei' israelita e o primeiro massacre de irmãos; dessa forma, temos aqui a primeira fábu¬la. As fábulas são extremamente po¬pulares no Oriente, onde são mui¬tas vezes identificadas com o nome do escravo-filósofo Lokman, o congênere de Esopo [...] A 'fábula' é uma narrativa imaginária usada para fixar prudência moral nas men¬tes". Junto com outros comentaris¬tas, entretanto, inclino-me para o aspecto parabólico do discurso de Jotão, o qual, como disse Stanley, "fa¬lou como o autor de uma ode ingle¬sa". Lang também.vê o discurso como uma parábola e faz três observações:

1. o material da parábola pode ser verdadeiro, assim como as árvo¬res são objetos reais;
2. o uso desse material pode ser com¬pletamente imaginário; como quando mostra as árvores em uma reunião, propondo a eleição de um rei e convidando aquelas que estão em crescimento —a oli-veira, a figueira, a videira e o es-pinheiro— a reinar sobre as ár¬vores mais altas, como o cedro;
3. os detalhes imaginários podem corresponder exatamente aos ho¬mens que precisavam ser instruí¬dos e aos seus feitos [...] O cedro era o mais alto e imponente; as¬sim também eram os homens de Siquém, que foram fortes o sufi¬ciente para levar adiante o terrí¬vel massacre.

Ainda, quanto à diferença entre interpretação e aplicação, cumpre di¬zer que a primeira se relaciona com o problema em questão, a saber, a relação entre Israel e Abimeleque, sendo histórica e local; a segunda é profética, e dispensacional. A inter¬pretação imediata da parábola de Jotão seria: as diferentes árvores são apresentadas em 'busca de um novo rei', e sucessivamente apresentam-se a oliveira, a figueira, a videira e, por último, o espinheiro. Nessas ár¬vores desejosas de um rei, temos a apresentação figurada do povo de Siquém, que estava descontente com o governo de Deus e ansiava por um líder nominal e visível, como tinham as nações pagas vizinhas. Os filhos mortos de Gideão são comparados a Abimeleque, como as árvores boas ao espinheiro. A palavra traduzida por reina sobre dá a idéia de pairar e encerra também a idéia da falta de sossego e de insegurança. Keil e Delitzsch, em seus estudos sobre o AT, afirmam: "Quando Deus não era a base da monarquia, ou quando o rei não edificava as fundações de seu reinado sobre a graça divina, ele não passava de uma árvore, pairando so-bre outras sem lançar raízes profun¬das em solo frutífero, sendo comple-tamente incapaz de produzir frutos para a glória de Deus e para o bem dos homens. As palavras do espi¬nheiro, 'vinde refugiar-vos debaixo da minha sombra', contêm uma pro¬funda ironia, o que o povo de Siquém logo descobriria".
Então, como observaremos, a vida da nação israelita é retratada pela semelhança com as árvores ci¬tadas na parábola, cada qual com propriedades especialmente valiosas ao povo do Oriente. Muito poderia ser dito a respeito das árvores, sen¬do a vida de cada uma diferente uma da outra. Embora todas recebam sustento do mesmo solo, cada uma toma da terra o que é compatível com a sua própria natureza, para produ¬zir os respectivos frutos e atender às suas necessidades. São as árvores diferentes no que se refere ao tama¬nho, à forma e ao valor. Cada árvore possui glória própria. As fortes pro¬tegem as mais fracas do calor inten¬so e das tempestades ferozes (v. Dn 4:20,22 e Is 32:1).
A oliveira é uma das árvores mais valiosas. Os olivais eram numerosos na Palestina. Winifred Walker, em seu livro lindamente ilustrado Ali the plants of the Bible [Todas as plantas da Bíblia], diz que "uma ár¬vore adulta produz anualmente meia tonelada de óleo". O óleo proporcio¬nava a luz artificial (Êx 27:20) e era usado como alimento, sendo também um ingrediente da oferta de manja¬res. O fruto também era comido, e a madeira, usada em construções (lRs 7:23,31,32). As folhas da oliveira sim¬bolizam a paz.
A figueira, famosa por sua doçu¬ra, era também altamente aprecia¬da. Seu fruto era muito consumido, e seus ramos frondosos forneciam um excelente abrigo (ISm 25:18). Adão e Eva usaram folhas de figuei¬ra para cobrir a sua nudez (Gn 3:6,7). Os figos são os primeiros frutos men¬cionados na Bíblia.
A videira era igualmente esti¬mada por causa dos seus imensos cachos de uva, que produziam o vi¬nho —grande fonte de riqueza na Palestina (Nm 13:23). O "vinho, que alegra Deus e os homens". Sentar-se debaixo da própria figueira ou videira era uma expressão prover-bial que denotava paz e prosperi¬dade (Mq 4:4).
O cedro, a maior de todas as ár¬vores bíblicas, era famosa por sua notável altura, pois muitas vezes "media 37 m de altura e 6 m de diâ¬metro". Por causa da qualidade da madeira, o cedro foi usado na cons¬trução do templo e do palácio de Salomão. Altivos e fortes, eles sim¬bolizavam os homens de Siquém, po¬derosos o suficiente para levar adi¬ante o terrível massacre dos filhos de Gideão. Lang fez a seguinte apli¬cação: "Assim como um espinheiro em chamas poderia atear fogo numa floresta de cedros e assim como um cedro em chamas causaria a destrui¬ção de todos os espinheiros à sua volta, também Abimeleque e os ho¬mens de Siquém eram mutuamente destrutivos e trocaram entre si a re¬compensa da ingratidão e da violên¬cia das duas partes".
O espinheiro é um poderoso ar¬busto que cresce em qualquer solo. Não produz frutos valiosos, e sua árvore, da mesma forma, não serve de abrigo. Sua madeira é usada pe¬los habitantes como combustível. O dr. A. T. Pierson lembra-nos que "o espinheiro é o sanguinheiro ou ramno" e que "o fogo que sai do espi¬nheiro refere-se à sua natureza in-flamável, uma vez que pode facil¬mente e em pouco tempo ser consu¬mido". A aplicação é por demais ób-via. O nobre Gideão e seus respeitá¬veis filhos haviam rejeitado o reino que lhes fora oferecido, mas o bas¬tardo e desprezível Abimeleque o aceitara e se afiguraria aos seus sú¬ditos como espinheiro incômodo e fe¬roz destruidor; seu caminho acaba¬ria da mesma forma que o espinhei¬ro em chamas no reinado mútuo dele para com os seus súditos (Jz 9:16-20). O fogo a sair do espinheiro tal¬vez se refira ao fato de que o incên¬dio muitas vezes se inicia no arbus¬to seco, pela fricção dos galhos, for¬mando assim um emblema apropri-ado para a guerra das obsessões, que geralmente destroem as alianças entre homens perversos.
Embora a habilidade de Jotão no emprego das imagens tenha atraído a atenção dos homens de Siquém e tenha agido como um es¬pelho a refletir a tolice criminosa deles, esse reflexo não os faz arre¬pender-se da perversidade. Os siquemitas não proferiram senten¬ça contra si próprios, como fez Davi após ouvir a tocante parábola de Nata, ou como fizeram muitos dos que ouviram as parábolas de Jesus (Mt 21:14). Eloqüência eficaz é a que move o coração a agir. Os ou¬vintes da parábola de Jotão ainda toleraram o reinado de Abimeleque por mais três anos.
Para nós a lição é clara: "O doce contentamento com a nossa esfera de atuação e o privilégio de estarmos na obra de Deus, estando no lugar em que o Senhor nos pôs; e a inutili¬dade da cobiça por mera promoção". Como a oliveira, a figueira, a videira e o espinheiro são muitas vezes usa¬dos como símbolos de Israel, será proveitoso reportarmo-nos de modo resumido a essa aplicação:
A oliveira fala dos privilégios e das bênçãos pactuais de Israel (Rm 11:17-25). E corretamente chamada o primeiro "rei" das árvores, porque, por manter-se sempre verde, fala da duradoura aliança que Deus fez com Abraão, antes mesmo de Israel se formar. Na parábola de Jotão, a oli¬veira é caracterizada por sua gordu¬ra e, quando usada, tanto Deus como o homem são honrados (Êx 27:20,21; Lv 2:1). Os privilégios dos israelitas (sua gordura) são encontrados em Romanos 3:2 e 9:4,5. Nenhuma ou¬tra nação foi tão abençoada quanto Israel.
O fracasso de Israel (oliveira) se vê no fato de que alguns de seus ra-mos foram arrancados, e certos ga¬lhos selvagens foram enxertados no lugar. Os gentios estão desfrutando de alguns dos privilégios e das bên¬çãos da oliveira. De todas as bênçãos recebidas por Israel, a principal foi o dom da Palavra de Deus e o dom do seu Filho. Hoje os gentios rege¬nerados estão pregando sobre o Fi¬lho de Deus a Israel, levando até essa nação a Palavra de Deus. A restau¬ração dos judeus, entretanto, é vista em sua gordura, no dia em que "todo Israel será salvo [...] se sua queda foi riqueza para o mundo [...] quan¬to mais sua plenitude".

A figueira fala dos privilégios nacionais de Israel (Mt 21:18-20; 24:32,33; Mc 11:12-14; Lc 13:6-8).

O que caracteriza a figueira é a sua doçura e seus bons frutos. Deus plantou Israel, sua figueira, mas o seu fruto se corrompeu e, no lugar da doçura, houve amargor. Foi o que aconteceu quando o nosso Senhor veio a Israel, pois os seus (o seu povo) não o receberam. Com amargor, os judeus o consideraram um endemo-ninhado e "formaram conselho con¬tra ele, para o matarem". Hoje acon¬tece a mesma coisa, pois Israel ain¬da rejeita o seu Messias e é amargo para com ele. David Baron disse: "Te¬nho conhecido pessoalmente muitos homens amáveis e de caráter adorá¬vel entre os judeus, mas, assim que o nome 'Jesus' é mencionado, mudam o semblante, como se tivessem um acesso de indignação [...] cerrando os punhos, rangendo os dentes e cus¬pindo no chão por causa da simples menção do nome.
O fracasso de Israel se vê no ressecamento da figueira (Mt 21:19,20). Nosso Senhor procurou frutos, mas, como não encontrou um sequer, amaldiçoou a árvore infrutí¬fera, e ela secou. Na parábola de Lucas, ela é derrubada. Essa é a si¬tuação de Israel há muitos séculos. A figueira está seca, sem rei, sem bandeira e sem lar. Ela é cauda, ape¬sar da promessa de ser cabeça entre as nações.
A restauração de Israel se obser¬va nos brotos verdes da figueira. O Senhor certa vez amaldiçoou uma figueira, dizendo: "Nunca mais nas¬ça fruto de ti". Quanto à outra figuei¬ra, Israel, no entanto, disse: "Aprendei agora esta parábola da fi¬gueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão [...]. Igualmente vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está pró¬ximo, às portas" (Mt 24:32; Lc 21:30).
A videira simboliza os privilégios espirituais de Israel (Is 5:1-7; SI 80:9-19; Ez 15; Jo 15).
O que caracterizava a videira era o vinho, que alegra tanto a Deus como ao homem. O vinho é o símbo¬lo escolhido pelo Senhor para a ale¬gria. Quando Israel tinha os odres de vinho cheios e transbordantes, esse fato servia de prova indiscutí¬vel de que a bênção transbordante do Senhor estava sobre o povo e, é claro, de que havia alegria sob a aprovação divina; e o próprio Deus alegrava-se na libação oferecida por seu povo.
O fracasso de Israel se vê na vi¬deira consumida e devorada e na vinha pisoteada. Deus trouxe a vi¬deira do Egito, plantou-a em lugar preparado, fez tudo por ela, mas ela perdeu o viço, de modo que as suas sebes foram retiradas e a planta¬ção ficou desolada. Não existe mais vinho.
A restauração de Israel acontece¬rá no dia da visitação de Deus. "Ó Deus dos Exércitos, volta-te, nós te rogamos! Atende dos céus, e vê! Vi¬sita esta vinha, a videira que a tua destra plantou [...] Faze-nos voltar, ó Senhor Deus dos Exércitos; faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos" (SI 80). Essa visitação acon¬tecerá na pessoa do Filho de Deus, pois todas as bênçãos espirituais es¬tão nele, e daqui em diante Israel as encontrará somente na Videira Ver¬dadeira.
O espinheiro, a mais insignifican¬te das árvores, só serve para ser queimada. O espinheiro estava dis¬posto a reinar sobre as árvores. E todas elas estavam dispostas a lhe prestar submissão. Isso é profético e reflete o dia em que Israel será do¬minado pelo Anticristo. O espinhei¬ro é uma árvore cujos espinhos re¬presentam a maldição do pecado.
Quando o espinheiro vier, dirá: "...vinde refugiar-vos debaixo da mi¬nha sombra...". Quando nosso bendi¬to Senhor esteve aqui, disse: 'Vinde a mim"; e o que teve em resposta foi: "Fora! Fora! Crucifica-o! [...] Não te¬mos rei, senão César". Mas, quando vier o espinheiro, eles o receberão e farão uma aliança com ele, depositan¬do a confiança na sua sombra.
Sairá fogo do espinheiro e con¬sumirá a todos. Essa é uma profe¬cia sobre a grande tribulação, a hora da dificuldade para Jacó. Mas o pró¬prio espinheiro será queimado e destruído (Jz 9:20). Isso acontecerá na vinda do nosso Senhor (2Ts 2:8). E a gordura, a doçura e a alegria das árvores abençoarão a Israel e farão dele uma bênção, por meio daquele que morreu no madeiro amaldiçoado.

O significado do termo parábol a Parábola dos dois cestos de figos

Embora estejamos inclinados a limitar o significado de parábola às parábolas de Jesus encontradas nos três primeiros evangelhos, na verda¬de o vocábulo tem uma flexibilidade de emprego, pois abarca diferentes aspectos da linguagem figurada, como os símiles, as comparações, os ditados, os provérbios e assim por diante.
No AT a palavra hebraica tradu¬zida por parábola é m_sh_l, que sig-nifica provérbio, analogia e parábo¬la. Com ampla gama de empregos, essa palavra "cobre diversas formas de comunicação feitas de modo pi¬toresco e sugestivo —todas aquelas em que as idéias são apresentadas numa roupagem figurada. Em vir¬tude de sua aplicação ser tão varia¬da, encontra-se na versão portugue¬sa diferentes traduções". A idéia central de m_sh_l é "ser como" e muitas vezes refere-se a "frases constituídas em forma de parábola", característica da poesia hebraica. O vocábulo nunca é usado no sentido técnico e específico de seu corres¬pondente neotestamentário.
Pode ser encontrado no discurso figurado de Balaão:
Parábola dos dois cestos de figos
(Jr 24:1-10)

Os capítulos de 22 a 24 dizem res¬peito ao mesmo período, a saber, o reinado de Zedequias, após a primei¬ra conquista de Jerusalém e o cati¬veiro de seus principais habitantes. Esses acontecimentos formam o ce¬nário da visão simbólica de Jeremias (v. Am 7:1,4,7; 8:1; Zc 1:8; 2:1). Se os cestos de figos foram realmente vis¬tos, então temos um exemplo nessa parábola da capacidade do profeta-poeta de encontrar parábolas em to¬das as coisas —"Sermões em pedras e livros em riachos". No entanto, como Jeremias começa a parábola com as palavras "Mostrou-me o Se¬nhor", concluímos que o profeta re¬cebeu uma mediação especial de Deus. Seus olhos físicos viram o olei¬ro nas rodas, mas foram seus olhos espirituais que tiveram a visão dos figos. Em estado de consciência e de responsabilidade, Jeremias recebeu a mensagem divina para Zedequias.

Figos muito bons
Um cesto continha figos bons, temporãos. Esse "figo que amadure¬ce antes do verão" ou "fruta têmpora da figueira no seu princípio" (Is 28:4; Os 9:10; Mq 7:1) era tratado como a mais fina iguaria. No dia da calami¬dade, dois grupos distintos foram achados —os bons e os maus. Os "fi¬gos muito bons" representavam os cativos levados para a Caldéia. Por meio deles, no futuro, Deus restau¬raria os seus. Daniel, Ezequiel, os três jovens hebreus e Jeconias (Joa¬quim) estavam entre os bons figos. Como essa parábola-profecia deve ter encorajado os desesperançosos exilados! Também serviu para repre¬ender os que escaparam do cativei¬ro, os quais, julgando-se superiores aos exilados na Babilônia, injuria¬ram os antepassados de Deus (Jr 52:31-34).

Figos muito ruins
Ruim é palavra portuguesa que abarca uma infinidade de sentidos de cunho negativo. Cumpre salien¬tar, porém, as acepções "inútil", "sem mérito" e "estragado", "deteriorado". Hoje, quando dizemos que uma fru¬ta é ou está "ruim", em geral nos re¬ferimos à qualidade do seu sabor, ao fato de não ser ou estar muito palatável (sendo ou estando azeda, amarga, verde etc). De modo que as acepções mencionadas acima de cer¬ta forma se perderam nas transfor¬mações etimológicas da palavra ou, ao adjetivar outros substantivos, se perdem ainda na subjetividade, im¬precisão e abrangência do vocábulo. Lendo os clássicos da literatura, con¬tudo, poderemos notar o emprego de ruim com a idéia muito clara, em al¬guns casos, de "sem valor", "inútil".
No cesto de figos imprestáveis, tão ruins que não podiam ser comidos, temos um símbolo dos cativos de Zedequias e daqueles judeus rebel¬des, indóceis e obstinados que perma¬neceram com ele. Sobre esses cairia o juízo divino (Jr 24:8-10). Os termos bons e maus são usados não em sen¬tido absoluto, mas como comparação e para mostrar o castigo dos maus. Os bons eram olhados por Deus com favor (24:5). Deus estimava os exila¬dos na Babilônia como quem vê bons figos com bons olhos e desfez o cati¬veiro "para o seu bem". Levando-os para a Babilônia, Deus também os salvara da calamidade que sobrevi-ria ao restante da nação e os condu¬zira ao arrependimento e a uma con¬dição melhor (2Rs 25:27-30).
O retorno do cativeiro babilônico e a volta a Deus eram resultado do efeito punitivo da escravidão, um tipo da completa restauração dos judeus. Então, quando o Messias retornar, serão como uma nação renascida em um dia. Tendo-se vol¬tado para Deus de todo o coração, todo o povo será um cesto de figos muito bons. No Commentary [Co¬mentário] de Lange encontramos esta aplicação: "Os prisioneiros e os de coração quebrantado são como os figos bons, agradáveis a Deus por¬que:

1. conhecem o Senhor e voltam-se para ele;
2. ele é o Deus deles, e eles são o seu povo.

Aqueles que se mantêm arrogan¬tes e confiantes desagradam a Deus e são como os figos ruins porque:

1. vivem na cegueira tola;
2. desafiam o julgamento de Deus.

Essa Parábola dos dois cestos de figo pode ser comparada de forma proveitosa com a Parábola do joio e do trigo, de Jesus.
Jeremias era um "figo bom", um profeta de verdade, mas os falsos profetas, "figos ruins", tentavam in¬fluenciar os cativos na Babilônia e os que estavam em Jerusalém; e o restante da mensagem divinamente inspirada de Jeremias a Zedequias desmentia a autoridade e a inspira¬ção dos falsos mestres e mostrava a exatidão da visão dos cestos de figos dados por Deus.