segunda-feira, 12 de abril de 2010

O significado do termo parábol a Parábola dos dois cestos de figos

Embora estejamos inclinados a limitar o significado de parábola às parábolas de Jesus encontradas nos três primeiros evangelhos, na verda¬de o vocábulo tem uma flexibilidade de emprego, pois abarca diferentes aspectos da linguagem figurada, como os símiles, as comparações, os ditados, os provérbios e assim por diante.
No AT a palavra hebraica tradu¬zida por parábola é m_sh_l, que sig-nifica provérbio, analogia e parábo¬la. Com ampla gama de empregos, essa palavra "cobre diversas formas de comunicação feitas de modo pi¬toresco e sugestivo —todas aquelas em que as idéias são apresentadas numa roupagem figurada. Em vir¬tude de sua aplicação ser tão varia¬da, encontra-se na versão portugue¬sa diferentes traduções". A idéia central de m_sh_l é "ser como" e muitas vezes refere-se a "frases constituídas em forma de parábola", característica da poesia hebraica. O vocábulo nunca é usado no sentido técnico e específico de seu corres¬pondente neotestamentário.
Pode ser encontrado no discurso figurado de Balaão:
Parábola dos dois cestos de figos
(Jr 24:1-10)

Os capítulos de 22 a 24 dizem res¬peito ao mesmo período, a saber, o reinado de Zedequias, após a primei¬ra conquista de Jerusalém e o cati¬veiro de seus principais habitantes. Esses acontecimentos formam o ce¬nário da visão simbólica de Jeremias (v. Am 7:1,4,7; 8:1; Zc 1:8; 2:1). Se os cestos de figos foram realmente vis¬tos, então temos um exemplo nessa parábola da capacidade do profeta-poeta de encontrar parábolas em to¬das as coisas —"Sermões em pedras e livros em riachos". No entanto, como Jeremias começa a parábola com as palavras "Mostrou-me o Se¬nhor", concluímos que o profeta re¬cebeu uma mediação especial de Deus. Seus olhos físicos viram o olei¬ro nas rodas, mas foram seus olhos espirituais que tiveram a visão dos figos. Em estado de consciência e de responsabilidade, Jeremias recebeu a mensagem divina para Zedequias.

Figos muito bons
Um cesto continha figos bons, temporãos. Esse "figo que amadure¬ce antes do verão" ou "fruta têmpora da figueira no seu princípio" (Is 28:4; Os 9:10; Mq 7:1) era tratado como a mais fina iguaria. No dia da calami¬dade, dois grupos distintos foram achados —os bons e os maus. Os "fi¬gos muito bons" representavam os cativos levados para a Caldéia. Por meio deles, no futuro, Deus restau¬raria os seus. Daniel, Ezequiel, os três jovens hebreus e Jeconias (Joa¬quim) estavam entre os bons figos. Como essa parábola-profecia deve ter encorajado os desesperançosos exilados! Também serviu para repre¬ender os que escaparam do cativei¬ro, os quais, julgando-se superiores aos exilados na Babilônia, injuria¬ram os antepassados de Deus (Jr 52:31-34).

Figos muito ruins
Ruim é palavra portuguesa que abarca uma infinidade de sentidos de cunho negativo. Cumpre salien¬tar, porém, as acepções "inútil", "sem mérito" e "estragado", "deteriorado". Hoje, quando dizemos que uma fru¬ta é ou está "ruim", em geral nos re¬ferimos à qualidade do seu sabor, ao fato de não ser ou estar muito palatável (sendo ou estando azeda, amarga, verde etc). De modo que as acepções mencionadas acima de cer¬ta forma se perderam nas transfor¬mações etimológicas da palavra ou, ao adjetivar outros substantivos, se perdem ainda na subjetividade, im¬precisão e abrangência do vocábulo. Lendo os clássicos da literatura, con¬tudo, poderemos notar o emprego de ruim com a idéia muito clara, em al¬guns casos, de "sem valor", "inútil".
No cesto de figos imprestáveis, tão ruins que não podiam ser comidos, temos um símbolo dos cativos de Zedequias e daqueles judeus rebel¬des, indóceis e obstinados que perma¬neceram com ele. Sobre esses cairia o juízo divino (Jr 24:8-10). Os termos bons e maus são usados não em sen¬tido absoluto, mas como comparação e para mostrar o castigo dos maus. Os bons eram olhados por Deus com favor (24:5). Deus estimava os exila¬dos na Babilônia como quem vê bons figos com bons olhos e desfez o cati¬veiro "para o seu bem". Levando-os para a Babilônia, Deus também os salvara da calamidade que sobrevi-ria ao restante da nação e os condu¬zira ao arrependimento e a uma con¬dição melhor (2Rs 25:27-30).
O retorno do cativeiro babilônico e a volta a Deus eram resultado do efeito punitivo da escravidão, um tipo da completa restauração dos judeus. Então, quando o Messias retornar, serão como uma nação renascida em um dia. Tendo-se vol¬tado para Deus de todo o coração, todo o povo será um cesto de figos muito bons. No Commentary [Co¬mentário] de Lange encontramos esta aplicação: "Os prisioneiros e os de coração quebrantado são como os figos bons, agradáveis a Deus por¬que:

1. conhecem o Senhor e voltam-se para ele;
2. ele é o Deus deles, e eles são o seu povo.

Aqueles que se mantêm arrogan¬tes e confiantes desagradam a Deus e são como os figos ruins porque:

1. vivem na cegueira tola;
2. desafiam o julgamento de Deus.

Essa Parábola dos dois cestos de figo pode ser comparada de forma proveitosa com a Parábola do joio e do trigo, de Jesus.
Jeremias era um "figo bom", um profeta de verdade, mas os falsos profetas, "figos ruins", tentavam in¬fluenciar os cativos na Babilônia e os que estavam em Jerusalém; e o restante da mensagem divinamente inspirada de Jeremias a Zedequias desmentia a autoridade e a inspira¬ção dos falsos mestres e mostrava a exatidão da visão dos cestos de figos dados por Deus.

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